Um Sem Juízo, Outro Sem Razão (Another You – 1991)

Eddie (Richard Pryor) é um golpista que foi obrigado a prestar 100 horas de serviço comunitário para conseguir sua condicional. O seu caminho vai se cruzar com o de George (Gene Wilder), um mentiroso patológico que tenta recomeçar sua vida depois de passar muitos anos em uma instituição mental. Ele é confundido com um homem rico que desapareceu e acaba tirando proveito da situação.

A quarta e última parceria cinematográfica da dupla Richard Pryor e Gene Wilder, considerada à época uma bomba, lançada no Brasil apenas em VHS, merece ser resgatada das empoeiradas estantes do tempo.

Eddie, de forma bastante relutante, carrega George até o que ele considera o símbolo maior da cultura, o museu de cera hollywoodiano, e, sem titubear, sinaliza que não vai poder participar do passeio, ao que o novo amigo logicamente se desespera. A atuação de Wilder nesta cena é brilhante, transmitindo aquela ingenuidade infantil que encantou o público em “Primavera Para Hitler”.

George, um picareta experiente, percebe então a oportunidade de levar vantagem, ele oferece, obviamente mediante pagamento, o prazer de sua companhia. A ideia fadada a dar errado já provoca um trauma no pobre paciente logo na entrada, quando ele é recepcionado por um Frankenstein com graves restrições orçamentárias. A sua fuga dá início ao caos generalizado no roteiro de Ziggy Steinberg, que também produziu esta pérola que literalmente sobreviveu contra todas as probabilidades, algo que, por si só, não pode ser desprezado.

devotudoaocinema.com.br - "Um Sem Juízo, Outro Sem Razão", com RICHARD PRYOR e GENE WILDER

É injusto comparar este filme com os três anteriores, “O Expresso de Chicago” (1976), “Loucos de Dar Nó” (1980) e “Cegos, Surdos e Loucos” (1989), o contexto em que foi feito não poderia ter sido mais complicado.

O público já sabia da frágil condição física de Richard Pryor, que havia sido diagnosticado anos antes com esclerose múltipla, a deterioração de seu estado de saúde é claramente visível nas cenas, o seu personagem frequentemente é amparado ao caminhar, a sua entrega é compreensivelmente prejudicada até mesmo em diálogos simples, mas o ator consegue manter sua dignidade.

A química da dupla não é afetada, a mágica do amor pelo público opera verdadeiros milagres, como na hilária sequência em que George destrava a sua capacidade de mentir na mesa do restaurante.

O grande Peter Bogdanovich trabalhou cinco semanas, mas foi substituído por Maurice Phillips, nenhuma filmagem dele foi utilizada, a história precisou ser retrabalhada, cenário conturbado que explica o desequilíbrio tonal entre a superior primeira hora e o confuso desfecho.

A imagem que fecha a obra, Wilder surpreendendo Pryor com uma placa em que se lê “parceiros para sempre”, uma mensagem direta e carinhosa para o público, tão terna, compensa os problemas narrativos.

“Um Sem Juízo, Outro Sem Razão” é o mais fraco dos quatro projetos da dupla, mas está longe de ser a bomba que a imprensa da época apedrejou.

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Viva você também este sonho...

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