• TEXTO ESCRITO E PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 2008, NO EXTINTO SITE “CINEMA”.

Vivemos numa época em que as comédias estão ficando cada vez mais fracas, o tipo de humor inteligente de Steve Martin vale a pena ser revisitado, mesmo que suas produções atuais não representem nem um pouco o quanto suas comédias eram maravilhosas na década de 80.

No Brasil, somente agora a chamada stand-up comedy começa a fazer sucesso e virar moda (mesmo já tendo sido feita por mestres do humor como Chico Anysio e Costinha desde a década de 50), mas nos Estados Unidos este tipo de humor sempre foi respeitado. Não é como aqui, em que hoje qualquer um conta piadas em pé e diz que é stand-up comedy.

Um dos melhores representantes deste gênero na década de 70 foi Steve Martin. Em seu primeiro emprego na Disneyland o jovem fazia de tudo. Desde truques de mágica e tocar banjo até criar animais com balões de ar, em uma experiência que lhe mostrou a importância de ser polivalente no showbusiness, levando-o a um lugar de destaque na série televisiva Saturday Night Live.

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Na sua carreira no cinema destaco os projetos que eu considero os melhores exemplos de seu tipo de humor. Em “O Panaca” (The Jerk – 1979), ele interpreta um jovem caucasiano com problemas mentais, que fora adotado por uma família negra. Caso esta pérola fosse realizada hoje em dia, provavelmente esbanjaria humor chulo e piadas de mau gosto, mas com um diretor elegante como Carl Reiner no comando, tornou-se uma comédia sensível e com uma ingenuidade chocante, que contrasta com o humor negro, fazendo a mistura perfeita. Diretores como os irmãos Farrely até hoje tentam, mas ainda não conseguiram equilibrar com perfeição estes elementos.

Mantendo a parceria com o diretor, Martin protagoniza o genial “Cliente Morto não Paga” (Dead men don’t wear plaid – 1982), em que presta uma homenagem criativa ao gênero de filmes Noir, fazendo uso de clássicas cenas no gênero (como Barbara Stanwick em “Pacto de Sangue” de Billy Wilder) editadas junto a cenas de Martin em preto e branco, numa brincadeira ousada. Para os cinéfilos torna-se um prazer sem tamanho ver no mesmo filme astros como Burt Lancaster, Ray Milland, Cary Grant, Ingrid Bergman, Bette Davis e Ava Gardner “contracenando” com Steve Martin e Rachel Ward em uma trama detetivesca e muito engraçada.

Ainda junto ao diretor Carl Reiner, o filme “Um Espírito Baixou em Mim” (All of me – 1984) transforma Martin em uma vítima de uma sessão espírita que deu errado. Ao tentarem ressuscitar a alma de Lily Tomlin (em seu auge em Hollywood), o seu espírito errante vai de encontro ao personagem, dividindo-o em duas personalidades. A decisão acertada de fazer com que a divisão fosse bastante aparente, com um lado do corpo sendo dominado pelo espírito feminino, propiciou ao criativo ator um manancial de possibilidades que ele desfrutou, saboreando cada momento.

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Capitaneado por outro talentoso diretor, John Hughes, ele protagonizou ao lado do saudoso John Candy o ótimo “Antes Só do que Mal Acompanhado” (Planes, trains and automobiles – 1987). As desventuras de um executivo sério, tentando viajar de volta para casa no feriado de final de ano e seu encontro com um vendedor bonachão (Candy) que lhe faz companhia durante o trajeto, dão margem a cenas maravilhosas e que nos estimulam tanto para o humor quanto para as lágrimas.

Estas são minhas dicas para os que não conhecem o trabalho de Steve Martin ou os que o enxergam apenas como o protagonista de obras desnecessárias, como a atual refilmagem de “A Pantera Cor de Rosa”, “A Casa Caiu” e filmes bobinhos de comédia familiar.

Martin é parte de uma equipe em extinção no cenário do humor mundial, um gênio que usa a inteligência para fazer rir, que utiliza o raciocínio para elaborar uma cena, mas que sabe apelar para o grotesco se for preciso, sem perder a elegância.

Eu espero que ele volte a protagonizar filmes tão bons quanto os que ele fez nos anos 80 e seja reconhecido como o gênio do humor que é!



Viva você também este sonho...

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