TEXTO ESCRITO E POSTADO ORIGINALMENTE EM 2013

Baba Aziz – O Príncipe que Contemplava sua Alma (Bab’Aziz – 2005)

“Existem tantos caminhos que levam a Deus quanto almas na Terra.”

Este é o melhor filme da Trilogia do Deserto, com cenas que ficam passeando em sua memória por muito tempo, como a dança da jovem Ishtar e seu avô no deserto e a forma como a narrativa se aproxima claramente das “1001 Noites”, com o avô (como Sherazade) contando a fantástica história do príncipe por partes, para entreter a menina, que vai ficando cada vez mais fascinada.

O roteiro (escrito pelo diretor em parceria com Tonino Guerra, que também escreveu “Amarcord” e “Blow Up”) é fundamentado na dignidade e na devoção do nobre Baba Aziz, que sabe estar com a finitude à espreita, fazendo com que procure passar seu conhecimento para sua neta espiritual, que o acompanha na viagem.

Assim como no primeiro, temos um personagem que representa o mundo contemporâneo. Um jovem de jaqueta jeans e boné (cuja primeira aparição cria um choque, contrastando com a aparência “fabulesca” da trama) que encontra o Baba Aziz (Parviz Shahinkhou) e sua jovem neta Ishtar (Maryam Hamid), enquanto caminhavam nas areias do deserto à procura do local da grande reunião de dervixes (monges muçulmanos nômades), que só ocorre a cada trinta anos.

devotudoaocinema.com.br - "Baba Aziz - O Príncipe que Contemplava sua Alma", de Nacer Khemir

O jovem se faz presente inicialmente pelo som do seu canto, o que nos conduz ao primeiro momento de rara beleza na obra.

Questionando o ancião sobre qual o caminho a seguir, o sábio lhe responde: “você deve apenas caminhar”. Preocupado em se perder na vastidão ondulante, escuta da menina: “aquele que tem fé, nunca se perde”. O Baba então entrega uma bela simbologia: “cada um utiliza seu dom mais precioso para encontrar seu caminho, o seu é a voz, então cante meu filho, que o caminho se mostrará a você”. Ele segue cantando até sumir no horizonte.

devotudoaocinema.com.br - "Baba Aziz - O Príncipe que Contemplava sua Alma", de Nacer Khemir

A mensagem essencial que o diretor Nacer Khemir quer nos passar é representada de forma lírica no discurso final do moribundo ancião: “Caso dissessem a um bebê preso na escuridão do ventre de sua mãe, que lá fora existe um mundo iluminado, com altos picos montanhosos, infindáveis oceanos, planícies ondulantes, belos jardins florescendo, riachos, um céu composto por uma miríade de estrelas e um sol escaldante, o bebê sem conhecer estas maravilhas, não acreditaria que tais coisas pudessem existir. Assim como nós, quando enfrentamos a finitude. Esta é a razão do medo”.

Na visão de Khemir, a procura por Deus (“a verdade para chegar a Deus está no próprio interior do homem” – Agostinho) é um incessante anseio pelo autoconhecimento e pela valorização do ser humano, em busca de um sentimento cristalino e um desapego material.

A “Trilogia do Deserto” é rica em simbolismos, linda de se admirar e com uma riqueza filosófica poucas vezes encontrada no cinema.



Viva você também este sonho...

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