Pecadores (Sinners – 2025)
Tentando deixar suas vidas problemáticas para trás, dois irmãos gêmeos (Michael B. Jordan) retornam à sua cidade natal para recomeçar, apenas para descobrir que um mal ainda maior está esperando para recebê-los de volta.
A longa cena final que ocorre durante os créditos reforça ainda mais a mensagem por trás da trama, não por necessidade, já que o diretor Ryan Coogler assegura desde o primeiro momento que a sutileza não é bem-vinda, escolha coerente com a fonte de inspiração óbvia da obra, o divertido “Um Drink no Inferno”, de Robert Rodriguez.
Vale destacar que a pérola da década de 90 acertava em um ponto fundamental que poderia ter sido imitado: a reviravolta sobrenatural efetivamente surpreendia o público. Coogler opta por abrir o filme escancarando este detalhe, ele dá um gostinho, mas, antes de entregar o prato principal, conduz o espectador por sua palestra.
E esta mão pesada ideológica prejudica o resultado, o discurso anticristão que é defendido em vários momentos (por exemplo, quando os vampiros debocham da oração do Pai Nosso, ou quando se estabelece que o ritual católico é uma teatralidade negativa imposta aos negros), o estímulo ao conflito racial (o roteiro chega a insinuar alegoricamente que a ideia da convivência harmônica na sociedade é sempre uma armadilha), a desgastada celebração da mentalidade revolucionária, tudo é apresentado de forma muito forçada, algo que torna as cenas de alívio cômico (boa parte delas verdadeiramente bobas) mais eficientes, já que não são alimentadas por nenhuma sorrateira intenção.
Analisado apenas como panfleto ideológico, o filme expõe suas mensagens com coragem, segurança e criativo senso estético. Como puro filme de terror do subgênero vampiresco, ele está acima da média, a construção de clima é impecável, há sequências arrepiantes (a trilha sonora do sueco Ludwig Göransson potencializa este aspecto), mas o terceiro ato poderia ter sido melhor desenvolvido.
“Pecadores” ganha pontos ao ecoar inteligentemente a lenda do pacto que teria sido feito pelo guitarrista Robert Johnson, há um interlúdio brilhante que entrelaça vários períodos de tempo, unidos poeticamente pela liberdade conquistada através da pureza de alma alcançada ao se expressar musicalmente. A sequência é inteligente em sua proposta e execução, o ponto alto da obra.
Se Coogler não tivesse se escorado tanto na militância profissional digna de um Spike Lee, o resultado teria sido mais impactante, ele demonstrou que prefere “chacoalhar as formigas”, buscar o lucro com o caos, um caminho artisticamente questionável e filosoficamente equivocado.
Cotação:
- O filme está em cartaz nas salas de cinema brasileiras.
Trailer: