No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

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Orelha (Ucho – 1970)

Certa noite, ao voltar para casa de uma reunião do partido, um oficial (Radoslav Brzobohatý) tcheco se convence de que está prestes a ser alvo de um expurgo político e tenta controlar os danos, ao mesmo tempo em que lida com sua esposa (Jiřina Bohdalová) em um casamento turbulento.

Se eu precisasse te vender esta obra tcheca, instigar a sua curiosidade, bastaria afirmar que ela foi proibida à época pelo partido comunista, ela só foi lançada após a queda do regime em 1989. Se incomodou a companheirada pelas verdades que insinua, pode ter certeza que é uma experiência obrigatória para qualquer indivíduo lúcido e de bom gosto cultural.

O filme do saudoso diretor Karel Kachyna, ainda hoje, segue sendo incendiário em sua proposta, atacando o totalitarismo em sua alegoria, expondo nas entrelinhas as entranhas do regime, a devassidão ética e moral, a corrupção, o antissemitismo, evidenciando o sentimento de culpa daquele que, do dia para a noite, acaba se tornando vítima do mal que ajudou a alimentar.

Até a esposa se vira contra ele, apontando o dedo para a sua covardia, a sua ambição pelo poder e por um favoritismo ilusório que sempre acaba no momento em que o peão questiona os métodos de seus superiores.

“Orelha” precisa ser redescoberto nos dias atuais, já que o mundo vergonhosamente ainda não aprendeu a lição.

  • Você encontra o filme com facilidade garimpando na internet.


Viva você também este sonho...

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