Vitória (2025)
Vitória (Fernanda Montenegro) é uma senhora solitária que, aflita com a violência que passa a tomar conta da sua vizinhança, começa a filmar da janela de seu apartamento. A idosa registra a movimentação de traficantes de drogas da região durante meses, com a intenção de cooperar com o trabalho da polícia. A atitude consegue chamar a atenção de um jornalista (Alan Rocha), que faz amizade com Vitória e tenta ajudá-la nessa missão.
Quando soube que esta história real seria adaptada para o cinema, estranhei, uma produção brasileira atual que condena a bandidolatria? Uma falha na Matrix? Uma coisa é certa, a escassa divulgação da obra na imprensa e o pouco barulho que causou nas redes sociais provam que o tema não agradou aos fantoches do sistema.
Como comparação, basta constatar como a máquina exagerou as qualidades de “Ainda Estou Aqui” e como está inflando um filme muito inferior em sua execução, “Homem Com H”, de Esmir Filho, uma cinebiografia convencional, simplória, que equivocadamente minimiza o elemento mais importante na vida do homenageado, a sua arte, para satisfazer uma agenda ideológica.
Andrucha Waddington é um diretor muito competente, considero “Casa de Areia” (2005) brilhante, “Lope” (2010) é uma pérola infelizmente pouco conhecida, “Gêmeas” (1999) é um instigante experimento criativo, ele se mostra fora da curva quando o material é verdadeiramente interessante e desafiador, uma pena que nossa combalida indústria ofereça poucas oportunidades neste sentido.
O único problema que encontrei em “Vitória” foi a desnecessária longa duração, o impacto emocional teria sido mais valorizado sem tanta gordura extra, este tipo de história precisa ser contada de forma objetiva, contundente, principalmente quando se escora na forte presença de uma protagonista talentosa como Fernanda Montenegro.
A direção de arte inteligentemente preenche lacunas na compreensão da essência da personagem, o seu apartamento evidencia o apego da senhora pelo seu passado, pelo esforço absurdo que dedicou na construção de seu conforto, o sonho de um crepúsculo de merecida paz que é destruído pelo caos criminoso que observa diariamente pela janela. A sua reação ao estilhaçar sua xícara com o susto após um disparo expressa mais do que linhas de diálogo, a tristeza por algo aparentemente tão dispensável, o cuidado em tentar restaurar a peça, traços de um caráter que busca sempre enfrentar o obstáculo.
O corpo dela pode ser intensamente frágil, mas a sua coragem supera qualquer limitação física. A melhor cena é aquela em que a mulher, ao perceber que foi descoberta pelos criminosos, demonstra orgulho, firma seu pé e seu coração em seu propósito e, como uma adolescente rebelde, dá uma cusparada na direção do mal.
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