Robocop – O Policial do Futuro (Robocop – 1987)
Policial (Peter Weller) eliminado em combate é transformado em ciborgue ultrassofisticado por cientistas da empresa que controla a força policial de Detroit. Apesar da memória apagada, lembranças persistentes o levam a buscar vingança.
O cenário é moralmente desolador, o consórcio do corrupto telejornalismo ajuda a estabelecer a teatralização do medo ilógico, atuando diretamente na manipulação do público, impondo uma distorcida visão negativa dos esforços da força policial.

Uma empresa, visando monstruosos interesses próprios, acaba se aliando aos maiores criminosos da cidade, financiando terror, destruição e todo tipo de absurdo, tentando criar a imagem de que as autoridades da lei estão erradas, de que são incompetentes, e de que os marginais são vítimas da sociedade.
Aqueles mais lúcidos podem acreditar que estou comentando sobre os eventos recentes na cidade do Rio de Janeiro, mas é a Detroit distópica do futuro imaginada por Edward Neumeier e Michael Miner.
Eu cresci na década de 80, completei quando criança o álbum de figurinhas que divulgava o desenho animado inspirado na obra, que era exibido nas manhãs da Rede Globo. Guardo na coleção até hoje com carinho as adaptações em quadrinhos dos dois primeiros filmes.
O meu pai gravou o filme em VHS de uma exibição noturna da TV, perdi a conta das vezes que chegava correndo da escola, atirava a mochila longe e inseria a fita no aparelho. Ele comprou até uma versão do boneco (hoje, action figure) que era vendida pelos camelôs, brinquei muito, fez parte de vários “filmes” que roteirizava com o elenco do “Comandos em Ação”.

Só quem viveu intensamente aquela época maravilhosa sabe como este trabalho do diretor holandês Paul Verhoeven foi marcante, você enxergava referências a ele em praticamente todos os setores.
A imagem do robô criada por Rob Bottin se tornou parte indelével da cultura pop. Consigo cantarolar a trilha sonora composta pelo saudoso Basil Poledouris até hoje, um tema brilhante que capta a essência da mensagem com muita sensibilidade: a coragem do policial honrado que não se perdeu na sua transformação em máquina.
Alguns anos atrás tive finalmente contato com a ótima novelização escrita por Ed Naha, que adquiri em edição francesa nos garimpos semanais pelos sebos da cidade.

A leitura me surpreendeu positivamente, quase sempre novelizações são produtos inferiores feitos a toque de caixa, mas, neste caso, o estilo do autor agrega à experiência, o ritmo é frenético, o texto esbanja um senso de humor ferino (sobra até para Sylvester Stallone, que é alvo de uma esperta piada).
A história traz muitas diferenças que expandem a compreensão da alegoria crítica, além de se aprofundar no desenvolvimento do personagem Alex Murphy, bebendo da fonte de alguma versão inicial do roteiro. Infelizmente o livro não foi lançado no Brasil.

Murphy representa as potencialidades de uma figura de autoridade da lei, ele é respeitado pelos colegas como alguém incorruptível. A simbologia dele, mesmo depois de ser destruído em serviço, conseguir reter seus valores (inclusive religiosos) enquanto máquina, fala alto em revisões.
Os engravatados da empresa podem enxergar ele como algo dispensável, esta é uma das críticas que a obra entrega (ela se apresenta ainda mais forte na novelização, este elemento foi reduzido nos tratamentos posteriores do roteiro), mas o que me faz retornar ao filme é a beleza deste simbolismo.
“Robocop – O Policial do Futuro” segue em revisão tão eficiente quanto na época de sua estreia, talvez até mais, já que muitas de suas profecias se concretizaram.

No Brasil de hoje, o telejornalismo maldosamente consegue manipular um povo desesperado, incapaz de raciocinar, a fechar seus empreendimentos e correr para debaixo das suas camas, enquanto divulga com ar de surpresa a baderna criminosa de seus fantoches nas ruas, o circo necessário para emoldurar as manchetes do dia seguinte. E, depois dos últimos cinco anos, incrivelmente ainda tem gente que acredita piamente nos titereiros do caos.
O policial, este herói que ganha pouco e se arrisca todos os dias, precisa ser aplaudido. A inversão de valores tem que acabar. Há um Alex Murphy em cada esquina deste país, as crianças da minha geração admiravam os homens da lei.
Ainda há tempo para consertar o amanhã, honre o “sapiens” que sucede o “homo”, rejeite qualquer discurso torpe que defenda o contrário.
- Você encontra o filme atualmente na plataforma AMAZON PRIME VIDEO.
Trilha sonora composta por Basil Poledouris:

