No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

O Verão de Picasso (The Picasso Summer – 1969)

O filme acompanha George Smith (Albert Finney), um arquiteto de São Francisco desiludido com seu trabalho, que decide viajar com sua esposa, Alice (Yvette Mimieux), para a França em busca do artista Pablo Picasso. O casal vai até a vila de Picasso no sul da França para agradecê-lo pela inspiração que sua arte alimentou em suas vidas, mas a busca obsessiva de George começa a criar um distanciamento entre os dois, enquanto Alice tenta encontrar uma bússola existencial na viagem.

Eu atravessei a adolescência apaixonado pelo filme “Verão de 42”, de Robert Mulligan, e, por causa dele, acabei descobrindo esta imperfeita e encantadora pérola do final da década de 60.

O caso é que o LP da trilha sonora de Michel Legrand, apesar de estampar na capa o lindo rosto de Jennifer O’Neill e o título da obra, trazia apenas duas faixas compostas para ela, o restante do material havia sido retirado deste tal de “The Picasso Summer”, uma escolha bem esquisita. Hoje, tenho na coleção o vinil e o CD, já que a música para o obscuro projeto é, sem exagero, deslumbrante, talvez um dos melhores trabalhos da carreira do saudoso compositor francês.

O diretor original foi Serge Bourguignon, do sensível “Sempre aos Domingos” (Les dimanches de Ville d’Avray, de 1962), mas o seu corte foi rejeitado pelos produtores, Robert Sallin foi convocado para retrabalhar as cenas, parte do material original sobreviveu, mas o conceito modificou bastante. A ideia original, do grande Ray Bradbury, sofreu alterações que incomodaram o escritor, o resultado é inegavelmente problemático em alguns aspectos, a essência da mensagem, terna, gentil, e a elegante fotografia do mestre húngaro Vilmos Zsigmond, compensam generosamente os equívocos.

Há uma atmosfera de ingênua delicadeza que fascina desde os primeiros momentos, uma doçura (verdadeiramente alienígena quando comparada ao mundo atual) cativante que move os personagens, e, principalmente, um senso de inventividade estética (incluindo longas e maravilhosas sequências em animação) que não soa gratuito, o filme é, acima de tudo, uma carta de amor ao processo criativo de um artista.

E pensar que o mundo já foi assim, já teve material humano desta qualidade…

  • Você encontra o filme garimpando na internet.

Trilha sonora composta por Michel Legrand:



Viva você também este sonho...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui