007 Contra Goldfinger (Goldfinger – 1964)

Shirley Bassey entrou para a história do cinema cantando “Goldfinger”, sustentando a última nota, detalhe que marcou tanto, que foi emulado na canção seguinte por Tom Jones, dando o último passo na criação de um mito cinematográfico. Seria a primeira vez que uma cantora daria voz ao belo crédito de abertura idealizado por Maurice Binder. A elegância na interpretação casou de forma perfeita com a abordagem proposta pelos produtores, fazendo com que a música adentrasse o universo pop da época.

A fama de James Bond percorria a América, mas foi somente em seu terceiro filme que a franquia se consolidou atravessando os quatro continentes. O marketing utilizado foi tão poderoso que ninguém parecia imune ao apelo universal do espião. As crianças agora poderiam carregar Sean Connery desenhado em sua pose emblemática nas suas lancheiras escolares. A Bond Mania somente poderia ser comparada na mesma época ao fenômeno “The Beatles”.

Tudo começou quando os empreendedores produtores Albert Broccoli e Harry Saltzman contrataram o diretor Guy Hamilton para substituir Terence Young, que estava indisponível na época. O novo diretor idealizou uma sequência inicial fora do contexto do filme, algo que não era usual na indústria, com o estilo das matinês de aventura nos cinemas, abraçando a literatura pulp.

A cena em que o espião sai da água com seu equipamento de mergulho e revela por baixo dele um sofisticado e impecável smoking de paletó branco com um cravo na lapela, a personificação exata do personagem. A ideia de Hamilton tornou-se uma tendência muito explorada, de forma cada vez mais inventiva, nos sucessivos filmes da franquia. Outro símbolo de 007 que faz sua estreia neste projeto é o seu automóvel Aston Martin DB5, munido com um assento ejetável, um localizador, muitos anos antes do GPS ser criado, escondido na mala, cortinas de óleo e fumaça, armas sob os faróis e placas rotativas.

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Terence Young havia sido o responsável pela elegância e charme do protagonista, que recebia sugestões nos sets de filmagem, mas os aspectos mais fantasiosos e criativos foram idealizados por Guy Hamilton. Os fãs dos livros de Ian Fleming, que não apreciam os rumos tomados pela série durante os anos 70, devem colocar a culpa em alguns excessos cometidos em “Goldfinger”, pois o seu enorme sucesso financeiro levou os produtores a se afastarem cada vez mais da fonte literária. Justiça seja feita, existia ainda uma preocupação em respeitar o material original na adaptação, que transpôs algumas sequências com exatidão de detalhes, como a tensa disputa entre Bond e Auric Goldfinger no campo de golfe.

Na história, o espião é encarregado de vigiar um magnata que idolatra o ouro, chegando ao cúmulo de ter um Rolls-Royce todo feito à base do minério. O ambicioso plano: atacar o Fort Knox e contaminar o conteúdo do reservatório por décadas. Assim, em pouco tempo, seu ouro iria valer muito mais. O megalomaníaco vilão foi interpretado pelo ator alemão Gert Fröbe, um violinista que chegou a integrar durante um tempo o partido alemão, o que o levou a ter dificuldades em sua carreira. O caso foi atenuado devido ao salvamento de dois judeus durante a Segunda Guerra.

O seu fiel (e mudo) segurança e motorista particular prova-se uma imponente ameaça, vencida pelo intelecto superior do herói, não pela força física. O icônico Oddjob e seu chapéu preto com aba de aço, capaz de dividir ao meio uma estátua. O misterioso personagem foi interpretado por um medalhista de ouro em levantamento de peso, mestre em Karatê, Harold Sakata.

A Bond Girl neste filme foi talvez a mais fria de todas: Pussy Galore (que com seu sugestivo nome atordoa o herói, numa breve e hilária cena nascida de um improviso do ator) pilota o avião particular do vilão e em nenhum momento esconde sua preferência romântica, acreditando ser imune aos galanteios do espião (claro que por pouco tempo). A atriz inglesa Honor Blackman fez fama com este papel e também estrelou a popular série “Os Vingadores”.

Duas outras belas mulheres atravessam o caminho de 007 no filme, mas apenas uma teve a sorte de ser imortalizada no cânone da franquia, protagonizando uma das cenas mais incríveis da série. Shirley Eaton interpretou Jill Masterson, a secretária de Goldfinger que é eliminada da maneira mais cruel possível, por asfixia, ao ter seu corpo todo pintado com tinta dourada. A emblemática imagem estampou praticamente todos os materiais de marketing.

A longa perseguição de carros, em que o espião mostra todo o potencial bélico de seu Aston Martin é o ponto alto do filme, com uma magistral edição de Peter Hunt, que viria a dirigir alguns anos depois “A Serviço Secreto de sua Majestade”. O projeto, pleno em criatividade e escapismo foi um sucesso de público, tendo custado 2,5 milhões e arrecadado por volta de 125 milhões, 50 vezes mais no mundo todo.



Viva você também este sonho...

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