“O arrependimento é inútil na vida, ficou no passado. Tudo o que temos é o agora.” 

Marlon Brando era realmente uma força da natureza. Martin Scorsese estava certo ao afirmar que ele simbolizava um marco na história do cinema. Com relação aos métodos de atuação, nada mais seria o mesmo após sua chegada em Hollywood. Reconhecido não somente por sua excelência como ator, mas também por ser um aguerrido defensor de causas humanitárias, como a dos direitos civis e a dos índios americanos. Diferente dos astros de hoje, que se dizem politizados para aparecerem na mídia e venderem uma imagem de pessoas conscientes, Brando levava a sério sua função.

Aproveitava toda oportunidade que tinha para falar sobre as causas em que acreditava, mesmo que isto lhe trouxesse problemas. Quando venceu em 1973 o seu merecido Oscar por “O Poderoso Chefão”, ele não compareceu à cerimônia, enviando uma atriz travestida de índia em seu lugar. Ela discursou em seu nome, protestando contra a marginalização dos índios promovida pela indústria de cinema e pelos Estados Unidos. Ela saiu do palco ao som de muitas vaias, mas Brando prosseguiria com seu objetivo.

Meses após o evento, ele apareceu no palco do Talk Show de Dick Cavett e recusou-se a responder as perguntas do entrevistador, sem perder a educação e o respeito pelo anfitrião. A plateia achava graça enquanto Brando olhava gravemente para as câmeras e Cavett ficava completamente sem ação. Transtornado, questionou o apresentador sobre um produto, um dos patrocinadores, que havia sido colocado de propósito na mesa, recusando-se a participar do jogo comercial da emissora de televisão. Um exemplo de integridade cada vez mais raro na indústria do entretenimento. Ao final, quando o apresentador surpreendeu o ator dedicando espaço generoso à causa indígena, Brando ficou sem jeito e agradeceu, fazendo o público rir ao declarar que deveria ter sido mais receptivo às questões.

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Brando estudou em várias escolas de teatro, mas foi com a professora Stella Adler que ele teve seu primeiro contato com Stanislavski e definiu sua técnica. A professora percebeu o raro talento no jovem quando propôs aos alunos um desafio. Eles teriam que atuar como galinhas e, em dado momento, uma bomba iria cair próximo a elas. Quando a bomba explodiu, toda a classe se espalhou pela sala, correndo e balançando os braços, mas somente Brando se encolheu e escondeu-se calmamente embaixo da mesa, como se estivesse botando ovos. Ao ser questionado sobre a razão de sua atitude, ele respondeu que, como uma galinha, não saberia nunca o que era uma bomba e o perigo que estaria correndo. Stella aplaudiu sua genialidade.

Em 1961, após alguns anos tentando viabilizar um projeto audacioso, procurando conseguir a direção de Stanley Kubrick e Sam Peckinpah sem sucesso, constatando que eles não conseguiam ver a obra da mesma forma que ele, decidiu então dirigir seu primeiro e único projeto, intitulado: “A Face Oculta”. O projeto final pouco se assemelhava com o livro no qual foi baseado, tendo tido seu roteiro reescrito por Brando. Após a estreia, houve certa polêmica na mídia especializada sobre quem teria sido o real autor do filme, no que o colega ator Karl Malden, que também fazia parte do elenco, afirmou: “Só há uma resposta para sua pergunta e ela é Marlon Brando. Um gênio de nosso tempo.”

Dentre seus trabalhos, os meus favoritos são “Uma Rua Chamada Pecado” (A Streetcar named Desire – 1951), “Sindicato de Ladrões” (On the Waterfront – 1954) de Elia Kazan, o genial “A Face Oculta” (One-Eyed Jacks – 1961), “Queimada” (Queimada – 1969), a adaptação de Shakespeare: “Júlio César” (Julius Caesar – 1953), o corajoso “Último Tango em Paris” (Last Tango in Paris – 1972) de Bernardo Bertolucci, “O Poderoso Chefão” (The Godfather – 1972) e “Apocalypse Now” (1979) de Francis Ford Coppola.

Brando faleceu em 2004, mas os ecos de sua lenda irão reverberar enquanto houver algum ator trabalhando no mundo. Um mito imortal.



Viva você também este sonho...

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