Pecados Antigos, Longas Sombras (La Isla Mínima – 2014)

A trama é ambientada em um período de incerteza política na Espanha, cinco anos após o falecimento do general Franco. Dois policiais da cidade grande são enviados aos pântanos sulistas, com o objetivo de traçar o rastro de um criminoso que se aproveita de meninas interessadas em melhorar de vida, a dura consequência da instabilidade social.

De forma inteligente, o roteiro não se preocupa em delinear as motivações desses personagens, eles quase não conversam. Ao invés dos diálogos expositivos, o diretor opta por inserir sutis dicas que encaminham o público de maneira orgânica até essas contundentes revelações.

Ainda que boa parte das críticas revele a questão, prefiro respeitar a experiência do público. Por exemplo, logo no início, em uma cena de perseguição a um possível suspeito, o policial mais novo, vivido por Raúl Arévalo, demonstrando a impulsividade inconsequente de um idealista, gasta seu fôlego correndo, enquanto o mais velho, vivido por Javier Gutiérrez, numa atitude arrogante, simplesmente dispara sua arma para o alto, sabendo que o suspeito iria se amedrontar e desabar no solo. Essa divergência de atitudes encontra eco no terceiro ato.

Vale destacar a excelente fotografia de Alex Catalán, que, ao contrastar a magnitude do cenário com a mente pequena dos residentes, ajuda a construir uma aura de claustrofobia moral que parece dominar o local e seu povo, um clima macabro que me remeteu diretamente ao “Seven”, de David Fincher. O bem azeitado suspense e as digitais claras do noir não seriam suficientes para que a obra se destacasse, qualquer “True Detective” televisivo consegue resultado semelhante. O interesse do roteiro não está na resolução do crime.

O que engrandece o filme é seu corajoso elemento de alegoria política, o conflito entre um sistema ditatorial mantido por egoístas e o gradativo levante daqueles que buscam estabelecer uma sociedade mais democrática.



Viva você também este sonho...

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