Com sorte, nesta passagem de fase você já apresentou aos seus filhos a beleza de filmes como “A Bela e a Fera” (propondo uma comparação entre a versão de Jean Cocteau e a animação da Disney), “Os Goonies” e “E.T. – O Extraterrestre”.

O pré-adolescente já entende cinema como uma arte que se divide em vários gêneros, cada um com sua beleza própria, o que irá impedir no futuro que ele cometa a estupidez de muitos estudantes (e professores) da área. Ensine aos seus filhos que não existe “filme de arte”, o equivocado conceito é alimentado por pura arrogância, existem filmes de propostas diferentes. Um excelente filme de terror é tão importante quanto um excelente drama ou um excelente filme de artes marciais. Os grandes diretores sempre beberam da fonte dos gêneros, assim como os críticos de cinema mais respeitados. Somente os tolos, os inseguros e incompetentes, segregam e incentivam discursos de ódio.

Vamos então partir para a fase final deste especial, que vai de quatorze a dezoito anos. Eu vou sugerir algumas opções iniciais. Que tal propor uma tarde temática com “A Noviça Rebelde”, “A Lista de Schindler” e “Cemitério dos Vagalumes”? Três produções que abordam a Segunda Guerra Mundial de maneiras completamente diferentes, estilos distintos, musical, drama e animação. O pré-adolescente irá agregar os ensinamentos do professor de História às suas conversas no sofá de casa, enquanto apreciam esses excelentes filmes.

Sugestão de viés para o bate-papo após a sessão do musical: Podemos ver pelo ponto de vista do amargurado e sisudo capitão Von Trapp (Christopher Plummer), que após o falecimento de sua esposa, dedicou-se a uma vida reclusa. Os seus sete filhos são o reflexo perfeito de sua criação distante e fria. Rebeldes e medrosos, sempre tentam afastar as pessoas de suas vidas. Ao conhecerem a nova governanta, que os trata como iguais, respeitam-na como uma amiga. O mesmo ocorre com o capitão, que pouco a pouco percebe a luz que irradia afastando as sombras de sua mansão, sempre que Maria (Julie Andrews) está presente. Com ela, reaprende a cantar e faz por merecer a admiração dos filhos.

Por esse prisma, as canções se tornam protestos velados, pequenas batalhas interiores, como na bela e patriótica: “Edelweiss”, que, em sua primeira versão, transforma o capitão amargurado no homem admirável que ele escolheria ser a partir daquele momento. Já em sua versão ao final, torna-se um grito de protesto contra os alemães que tomavam o controle de sua amada nação. Numa linda analogia, próximo ao final da música, a voz embargada de Plummer intenciona perder a força, somente para vermos a união da família que invade a canção em coro, empolgando toda a plateia que responde em uníssono, com orgulho e emoção renovados.

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Não há melhor momento para apresentar seus filhos à “Clube dos Cinco”, de John Hughes, a melhor produção a abordar os conflitos internos da adolescência. Na história, cinco estudantes ginasiais encontram-se detidos e tendo que passar o sábado juntos na sala de aula, sendo obrigados a escrever uma redação redimindo-os do erro. O toque de genialidade de Hughes foi fazer dos cinco jovens, símbolos e estereótipos de cinco características comuns e universais da idade. O rebelde violento, o esportista valentão, a menina mimada, a esquisita e o nerd. Eles terão que se confrontar e descobrir que não são tão diferentes como imaginavam.

Ao final, como forma de aliviar o debate, uma comédia despretensiosa: “O Rapto do Menino Dourado”, com Eddie Murphy, e, se possível, com a dublagem fantástica de Mário Jorge, que faz até as cenas mais fracas do original soarem incrivelmente engraçadas. Já que toquei no assunto, por gentileza, não estimule em seus filhos o preconceito contra a ferramenta da dublagem.

Respeitar a dublagem é, acima de tudo, ser grato por todos os filmes que aprendemos a amar na infância. Incentive sempre a leitura das legendas, mas não simplifique o discurso. É normal apreciar a dublagem e ser um ávido leitor. Eu sou fluente em inglês (aprendi sozinho), já fui professor, vejo os filmes em inglês no original (sem legenda), com legenda e dublados. Quando algum crítico tonto incitar o ódio nesse tema, tenha pena do pobre coitado, apenas um inseguro arrogante, interessado mais em admirar seu próprio umbigo, do que em propagar o amor pela Sétima Arte.

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Mais algumas sugestões importantes em variados gêneros: “Um Convidado Bem Trapalhão” (excelente introdução aos trabalhos de Peter Sellers e Blake Edwards), “Os Pássaros” (bom ponto de partida para a obra de Alfred Hitchcock), “O Planeta dos Macacos”, de 1968, e suas quatro continuações, “Tubarão”, “Era Uma Vez no Oeste” (ótima introdução aos trabalhos de Sergio Leone) e “Os Brutos Também Amam”. “O Dragão Chinês” e “A Fúria do Dragão” (Bruce Lee é sempre uma forma agradável de apresentar os filmes de artes marciais), numa semana temática com: “Os Cinco Venenos de Shaolin” (dos Shaw Brothers), “Arrebentando em Nova York” (com Jackie Chan) e “Matrix”, mostrando como o cinema norte-americano absorveu o estilo. “O Massacre da Serra Elétrica” (o original, claro), numa dobradinha com “O Silêncio dos Inocentes”. Ao invés de mostrar para o adolescente “E o Vento Levou…” (que funciona exatamente como mostrar Dom Casmurro para crianças na escola), comece com “Os Pássaros Feridos”, “A Felicidade Não se Compra” e “Paraíso Infernal” (excelente introdução aos trabalhos de Howard Hawks).

Que tal realizar uma sessão-dupla, com “O Rei Leão” (da Disney) e “Princesa Mononoke” (de Hayao Miyazaki)? Para os meninos, já está mais que na hora de apresentar as aventuras de James Bond. Sugiro começar mostrando nessa ordem: “007 Contra Goldfinger”, “Moscou Contra 007” e “007 – Viva e Deixe Morrer”. Caso ele goste, mostre os outros, além de incentivar que ele leia as obras originais de Ian Fleming.

Faça uma semana temática somente com filmes do Woody Allen, cinco tardes imersas na obra desse gênio. Sugiro que inicie com esses títulos: “A Última Noite de Boris Grushenko”, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “O Dorminhoco” e “Um Assaltante Bem Trapalhão”. E, já no final da “terceira fase”, como presente pelo empenho dos jovens, apresente a trilogia “O Poderoso Chefão”, sugerindo que eles busquem o complemento literário, o excelente livro de Mario Puzo.

Eu garanto que, com esta base que sugeri nesses quatro textos, o seu filho estará mais do que preparado para desbravar o universo fascinante do cinema. Sem preconceitos, sem cabresto, intensamente APAIXONADO.



Viva você também este sonho...

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