Matrimônio à Italiana (Matrimonio All’italiana – 1964)

Ao adaptar a peça “Filumena Marturano”, de Eduardo De Filippo, o diretor Vittorio De Sica apostou em uma das parcerias mais encantadoras da história do cinema: Sophia Loren e Marcello Mastroianni, logo após a pérola do trio: “Ontem, Hoje e Amanhã”.

A protagonista, uma mulher da vida festiva e de bom coração, poderia se transformar em um pastiche tolo nas mãos de qualquer atriz menos talentosa, mas Loren trabalha ao longo das passagens de tempo da trama, da insegurança de adolescente à fortaleza da meia-idade, uma riqueza de nuances dramáticas que engrandece os esforços de Mastroianni, salientando na nobreza de seus gestos a imaturidade psicológica do patético tipo vivido por ele, um bon vivant infantilizado que extravasa sua insegurança potencializando seus esforços em jovens simplórias da região.

Ela vive afastada dos três filhos, que ignoram a existência da mãe e dos irmãos, um fardo que a bela mulher tenta disfarçar com um sorriso largo, maquiagem amarga para esconder a ausência de lágrimas, uma espécie de sequidão existencial, elemento que engrandece o impacto emocional do pranto redentor no desfecho emoldurado pela cálida trilha sonora de Armando Trovajoli.

O roteiro parte de um artifício cômico rasgado, a farsa da finitude iminente dela como subterfúgio para forçar o matrimônio, fazendo uso inteligente do recurso do flashback, mas ganha contornos melodramáticos elegantes no segundo ato, quando o foco é desviado das pueris aventuras do casal para a nobreza impressionante da mãe que busca merecer o respeito dos filhos, ganhando confiança para se impor na sociedade, gradativamente encontrando ressonância no homem egoísta e irresponsável que, levado a pensar que um dos rapazes é seu filho, encontra algum sentido em seu errático estilo de vida, descobrindo a importância do legado. É neste momento que percebemos o coração do cineasta batendo mais alto.

Uma adorável comédia que, apesar do sucesso que fez na época, não costuma ser lembrada pelo público moderno, o que considero uma tremenda injustiça.



Viva você também este sonho...

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