1 – Mãe! (mother!), de Darren Aronofsky

O símbolo do criador sendo representado como poeta escritor é muito eficiente, criação artística e divina, há uma camada de interpretação menos alegórica que permite identificar a trama como um tratado sobre as dificuldades do processo criativo e o desejo narcisístico de ser reconhecido pelo trabalho. O bebê que é entregue à massa de adoradores, o livro que finalmente vai ser lido por outrem, o esforço do autor e o abandono do material que agora será adotado por cada leitor. Mas o viés religioso é muito mais instigante. O bebê Jesus, os seus ensinamentos, desvirtuados por vários interesses baixos, o pastor que fala em nome do criador e faz fortuna vendendo sua imagem. O mesmo povo que elimina o bebê por negligência, no torpor da adoração excessiva, divide ele em pedaços e ingere sua carne em ritual, a celebração da falsa aparência, enquanto praticam o oposto do que ele pregou, destruindo a casa em sua ruidosa passagem…

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2 – A Criada (Ah-ga-ssi), de Chan-wook Park

Adaptando com liberdade poética o livro Fingersmith, de Sarah Waters, o diretor sul-coreano Chan-wook Park demonstra tremendo refinamento estético e implacável ousadia, além de perfeito senso de suspense, sem receio de abraçar o erotismo da obra. Uma experiência que deve ser apreciada com o mínimo conhecimento sobre sua trama…

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3 – O Cidadão Ilustre (El Ciudadano Ilustre), de Gastón Duprat e Mariano Cohn

Mas há um elemento que compensou todos os absurdos vividos por ele, uma réstia de luz que brotou de onde menos se esperava, o jovem atendente do hotel, educado, de fala mansa, que, com toda delicadeza, ofereceu seus despretensiosos escritos para a avaliação do visitante. Naquela cortês figura que os clientes arrogantes nunca valorizam reside a matéria nobre que jamais será reconhecida naquela cidade, o sonho profissional que nunca será estimulado, a força de espírito que será pisada até se tornar uma lembrança melancólica em uma rotina frustrante, o reflexo no espelho do veterano, a mão estendida que implora por ajuda em uma massa de zumbis. E o homem, esgotado e pronto para abandonar novamente aquele esgoto a céu aberto, dedica então preciosos minutos para oferecer ao garoto o melhor presente de sua vida: esperança. Se ele conseguir salvar pelo menos um indivíduo valoroso, a viagem terá valido a pena…

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4 – Clash (Eshtebak), de Mohamed Diab

O diretor egípcio do excelente Cairo 678 retorna em grande estilo, mais maduro e seguro em seu ofício. Nunca um espaço cênico tão reduzido serviu para explorar tantas questões sociopolíticas fundamentais. É uma aula de cinema, com baixo orçamento e um ritmo vertiginoso. Filme de gente grande para gente grande…

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5 – Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight), de Barry Jenkins

Acordar sabendo que a sociedade o rejeita de diversas formas, excluído por ser pobre e negro, agredido na escola por ser introvertido, internamente incapaz de compreender sua homossexualidade, obrigado a medir cada gesto, silenciar impulsos, sem poder contar com a estabilidade emocional de uma mãe (Naomie Harris) entregue ao vício em crack, esse é o cotidiano do pequeno Chiron. A sua única figura paterna, um traficante de drogas que o encontra arredio, fugindo do ataque de seus colegas, alguém que enxerga nos olhos da criança a pureza que outrora guiava suas ações, antes do mundo o bestializar. O homem, vivido impecavelmente por Mahershala Ali, tem consciência de que faz parte da engrenagem que está destruindo o garoto, a culpa o humaniza, evitando inteligentemente o estereótipo…

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6 – Corra! (Get Out), de Jordan Peele

Ao perceber o carro de polícia se aproximando na cena do crime, o rapaz negro, apesar de estar consciente de sua inocência, levanta os braços aguardando a injustiça do sistema. O ato de viver em alerta constante, o medo de se permitir confiar em alguém, Jordan Peele, roteirista/diretor em sua obra de estreia, impressiona pela segurança com que trabalha os elementos tradicionais do gênero terror, focando nessas questões sem ser panfletário,
equilibrando com desenvoltura na equação os alívios cômicos…

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7 – Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake), de Ken Loach

O relacionamento de amizade formado entre Daniel, Katie e seus filhos, elemento que brota naturalmente a partir de um simples gesto de carinho dele com a jovem, um olhar atento quando todos fingiam não perceber sua presença, proporciona momentos de linda delicadeza e refinado simbolismo, como a estante feita à mão na esperança de que suporte no futuro o peso dos livros acadêmicos da amiga, a salvação pela cultura…

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8 – La La Land: Cantando Estações (La La Land), de Damien Chazelle

A cena inicial sintetiza uma das propostas do filme, a proposta mais óbvia, a celebração do gênero musical, a importância de se apreciar a beleza de suas convenções. O ato antinatural de contar uma história utilizando o canto e a dança, a reclamação mais comum dentre os detratores de musicais, apenas agrega mais possibilidades criativas. É preciso ter sensibilidade. A sociedade está cada vez mais insensível, impaciente e intolerante, mas a música está sempre presente, de alguma forma, até mesmo no alarme de mensagens do celular. Ao optar por dar o tom da trama mostrando vários motoristas entretidos musicalmente, enquanto aguardam o trânsito fluir, Damien Chazelle evidencia a onipresença melódica que é capaz de nos conduzir para a infância, ou ajuda a relembrar amores perdidos e marca momentos especiais, nos faz rir e chorar, em suma, enverniza a vida com a matéria de que são feitos os sonhos…

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9 – Doentes de Amor (The Big Sick), de Michael Showalter

O choque de culturas já seria interessante o suficiente, a angústia do rapaz que é guiado pelos pais egoístas à uma escolha profissional indesejada e encontros românticos arranjados em que o amor é o elemento menos importante na equação. Se ele demonstrar interesse em uma garota que não seja de sua cultura, a família se sente envergonhada e rompe a relação de afeto com o filho. É a tradição de seu país, assim como a oração diária que ele finge fazer enquanto checa os vídeos engraçados na internet, um cabresto social/religioso que pode ter profunda relevância para seus pais e irmãos, mas que não significa absolutamente nada em sua vida. A forma como o texto orgânico trabalha a questão, aliada à entrega incrivelmente natural do elenco, faz com que em poucos minutos o espectador esteja conectado emocionalmente aos personagens, o que é essencial para a eficiência narrativa do ponto de virada, quando o fator da imprevisibilidade conduz a trama além das convenções usuais do gênero da comédia romântica…

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10 – Frantz, de François Ozon

Quando é revelado o real motivo que levou Adrien a visitar a lápide de Frantz, o filme ganha contornos poéticos, revelando-se um bonito conto sobre o poder do perdão e da mentira como forma de arte. Os pais de Frantz sorriem mantidos na ignorância plena, Anna enfrenta seu medo e revela seu sentimento, algo tão forte que sequer a rejeição enfraquece, muito pelo contrário, no delicado desfecho, consciente do efeito curador da mentira contada por Adrien, com a fotografia colorida ressaltando o futuro promissor que se revela no horizonte, livre da culpa, a jovem agradece à pintura por mantê-la viva…



Viva você também este sonho...

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