A Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life – 1946)

“Dê-me apenas um bom motivo para que eu esteja vivo”. São as palavras de George Pratt (George Bailey na adaptação cinematográfica) para o enigmático baixinho (que no filme se mostra claramente como um anjo, chamado Clarence) que o encontra desolado em uma ponte, na véspera do Natal.

Por motivos que não são explicitados no conto “The Greatest Gift”, de Philip Van Doren (no filme as causas são exploradas), o homem se encontra em profundo desespero e cogita dar fim à sua vida. Ignorando todos os aspectos positivos, pensando apenas em eventos recentes que o abalaram negativamente, ele está disposto a desistir de tudo, impulsivamente. Caso esperasse algumas semanas e o natural (cíclico) girar do mundo, poderia ver como seus problemas não eram tão devastadores como ele temia. Nunca o são. Sempre existirá uma flor que romperá o asfalto, contrariando as expectativas mais pessimistas.

James Stewart e Donna Reed encantam como um casal que é separado por uma escolha. Ao descobrir-se em um mundo onde sua amada não está ao seu lado, George, como muitos que passam por traumáticas experiências, retorna ao lar, ao seu próprio universo, que chegou a renegar, intensamente modificado. Atenção redobrada ele concede ao que antes considerava irritantes defeitos, como o problema com sua escada. A falta de um diploma emoldurado em sua parede, algo que o fazia se sentir um derrotado, acabou com o tempo fazendo-o crer que apenas sua finitude, e o seguro de vida que viria, poderiam dar à sua família uma vida melhor.

George conduzia sua existência pelos moldes de seus amigos, acreditando que a felicidade deles era a mesma que a sua. O diretor Frank Capra, com seus doze arrebatadores minutos finais (muito mais eficientes que o desfecho do conto), demonstram para nós que o maior presente que temos é a oportunidade única de compartilhar esta lúdica experiência da vida com outrem. Descobrimos que cada ação, cada problema e cada sorriso são catalisadores de mudanças que vão muito além de nós mesmos. A sua vida, por mais medíocre que possa parecer, faz enorme diferença. Você, mesmo lutando para pagar suas contas com extrema dificuldade, pode e deve ser muito mais feliz que qualquer milionário.

Muito dessa dignidade no papel é mérito de James Stewart. Ele foi considerado por seus colegas na indústria como a epítome da elegância. A sua natureza era genuinamente íntegra, levando-o a não se furtar de expor suas opiniões, suas verdades, mesmo quando havia grande chance de que elas caminhassem contra o senso da maioria. Falava abertamente contra o processo de colorização de filmes clássicos, algo interessante financeiramente para a indústria, durante a década de 80, como uma forma de protestar contra o que considerava uma falta de respeito com os profissionais que haviam trabalhado naquelas obras. Amava especialmente, dentre todos os seus papéis, o que interpretou no belo “A Felicidade Não se Compra”.

O personagem que ele defende neste clássico é um reflexo fiel de sua conduta em vida. O generoso que arrisca perder sua sanidade, mas não admite que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que considera errado.



Viva você também este sonho...

1 COMENTÁRIO

  1. Uma das melhores obras do Frank Capra.
    Tem algo de místico mas mesmo assim não deixa de ser um clássico do cinema.
    O filme mostra a importância e vemos o quão querido é o personagem de James Stewart em relação á comunidade.
    Interessante é ver como seria daquela comunidade sem a presença do personagem de Stewart.

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