Os Suspeitos (Prisoners – 2013)

Após a obra-prima “Incêndios” (2010), o diretor canadense Denis Villeneuve demonstra mais uma vez a sua excelência na, cada vez menos valorizada, arte do suspense.

A elaborada atmosfera opressiva (clima criado pela ótima fotografia do veterano Roger Deakins), que é substituída por profissionais menos capazes pela utilização excessiva de fórmulas e truques, desgastando e pasteurizando todos os conceitos que Henri-Georges Clouzot, Alfred Hitchcock e outros gênios ajudaram a estabelecer. E o diretor trabalha com um tema bastante corriqueiro, uma variação do clássico conto de vingança, explorado em 9 de cada 10 projetos de ação. Já a forma como ele aborda essa trama, surpreende e eleva a qualidade da obra ao fugir da zona de conforto típica das produções de grandes estúdios.

O desaparecimento de duas meninas no feriado de Ação de Graças e a consequente prisão e liberação de um suspeito (vivido por Paul Dano), faz com que o pai de uma delas (Hugh Jackman em um de seus melhores trabalhos) se revolte e busque no intempestivo vigilantismo a resolução do caso. Terrence Howard vive o pai da outra menina, numa atuação de contido desespero, mas incapaz de aceitar conscientemente as atitudes do personagem de Jackman, que representa emocionalmente o exato oposto.

É o tango entre esses dois elementos que conduz a história e nos prende na poltrona. Jake Gyllenhaal, como o detetive desconectado de qualquer emoção real e que parece saído de um Noir, recebe espertamente pouca atenção do roteiro, que nunca aprofunda suas motivações e seu passado. Com certeza é a interpretação mais difícil, já que ele precisa expressar sutilmente em gestos e tiques todas as lacunas que nos são apresentadas.

Ele escolhe deixar bastante claro, nos primeiros três minutos, o leitmotiv (a eficiência de sua execução é mérito do roteiro preciso de Aaron Guzikowski) que irá reger a exploração moral dos personagens que são colocados no limite. Todos, de certa forma, são prisioneiros (poderiam ter mantido o título original) de um código de conduta que será colocado à prova. Iniciando com a oração do Pai Nosso emoldurando o abate de um cervo, seguido pela utilização da canção gospel “Put your hand in the hand” na trilha sonora e finalizando ao apresentar a personagem da mãe e da filha, através do vidro embaçado do carro, focando no crucifixo que se balança no retrovisor.

Estamos diante de uma fábula que instiga profundos questionamentos morais, ainda que exista ação suficiente nele para entreter os menos interessados. Existe um pouco de “Sobre Meninos e Lobos” e muito de “Seven”, mas a longa duração pode entediar aqueles que irão ver pensando se tratar de um primo elegante de “Busca Implacável”.

O filme vai além do que as estruturas limitantes do gênero costumam suportar. Quão longe nós seríamos capazes de ir contra nossas crenças?



Viva você também este sonho...

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