Mister Roberts (1955)

Em pleno auge da Segunda Guerra Mundial, o tenente Doug Roberts (Henry Fonda) é um oficial da Marinha dos Estados Unidos trabalhando a bordo de um navio de carga. Roberts mantém o controle no velho cargueiro militar, mas deseja ser transferido para a frota naval que está no Pacífico lutando contra os japoneses, mas seu superior, o excêntrico Capitão Morton (James Cagney), impede que ele deixe o barco.

Esta comédia militar, pouco lembrada, merece constar em qualquer lista temática ao lado de “Dr. Fantástico”, “M.A.S.H” e “A Recruta Benjamim”, entre outros. A obra fez sucesso na época, resultando em uma sequência horrorosa “O Barco do Desespero” (Ensign Pulver – 1964), além de uma série de TV. Este foi o primeiro grande filme do inesquecível Jack Lemmon, numa atuação que rendeu a ele um Oscar de coadjuvante.

Há também o icônico James Cagney, em uma participação pequena, mas muito importante. E, num papel recusado por Marlon Brando, Henry Fonda repetiu seu trabalho na Broadway, como o personagem título, que havia rendido a ele um prêmio Tony. É interessante pensar que uma obra com tantos talentos tenha se perdido no tempo, ainda mais se pensarmos que sua produção foi tremendamente tumultuada.

Inicialmente foi dirigida por John Ford, que confrontou os produtores para que Fonda ficasse com o papel, já que eles queriam alguém mais jovem. Só que ele não imaginava que o ator se mostraria tão insatisfeito nas filmagens, o que levou o diretor, em um ato de fúria provavelmente motivado pelo álcool, a socar o amigo. Após vários pedidos de desculpas, Ford foi afastado (direto para o clássico “Rastros de Ódio”), para a entrada de Mervyn LeRoy (dos excelentes “Na Noite do Passado”, “A Ponte de Waterloo” e “Flores do Pó”), que numa parceria com Joshua Logan, diretor da peça original, confidenciando ao elenco que manteria respeitosamente a visão de Ford, finalizou a obra.

Os elementos cômicos variam entre a proposta de Ford pelo humor físico, como na cena da sinfonia de binóculos, e pelos espirituosos diálogos, com destaque para a carismática presença de Ensign Pulver (Lemmon), que se apavora ao cogitar a possibilidade de encarar o tirânico personagem de Cagney. Gosto da cena em que o trio formado por Roberts (Fonda), Pulver e Doc (William Powell, em seu último trabalho) forja um scotch, adicionando refrigerante e tônico capilar.

E, pode ser loucura, mas sempre acreditei que Gene Roddenberry se inspirou em Roberts e Doc para estabelecer a relação entre o Capitão Kirk e McCoy, de “Jornada nas Estrelas”. O aspecto mais interessante no roteiro é o arco narrativo de Pulver, que vai da apatia covarde até a bravura, graças à inspiração nascida das atitudes de Mister Roberts. Um homem capaz de abdicar daquilo que mais desejava, participar ativamente da batalha, pelo bem-estar de seus companheiros.

Naquela “banheira” onde o tédio era uma constante, a verdadeira guerra já era travada internamente, entre o caráter e a inglória submissão. O desfecho, um momento emocionante que fica retido na mente dos que assistem, apresenta o despertar da coragem em Pulver, que aceita o manto de oposição do Mister Roberts, finalmente conquistando o respeito de seus irmãos forçados. Enquanto houver um homem íntegro na embarcação, a crueldade do comandante terá um oponente à altura.

*O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Classicline”.



Viva você também este sonho...

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