devotudoaocinema.com.br - Rebobinando o VHS - "Difícil de Matar" e "Fúria Mortal"

Estes dois filmes são simbólicos da época em que iniciei minhas garimpagens pelas locadoras de vídeo, após meu pai ter ganhado numa rifa o estimado videocassete. As fitas não paravam nas prateleiras das locadoras. Na época era comum você precisar assinar uma lista de espera com o atendente, que prometia ligar para você no exato momento em que as fitas fossem devolvidas. E ele ligava mesmo!

A “RG Vídeo Locadora”, na Rua 28 de Setembro, em Vila Isabel, era minha segunda casa, então eu esperava sempre a ligação do Ricardo, dono do estabelecimento, que acabou se tornando amigo da família. Como era emocionante chegar lá sem saber exatamente quais filmes estariam disponíveis, aqueles que tinham fichas coloridas inseridas nos estojos. Eu ficava abraçado com aquelas capas sem fichas, fazendo hora, na expectativa de que o cliente as devolvesse. Estava me lembrando desta época nesta tarde, enquanto abria o estojo e colocava a fita para rodar no aparelho, torcendo para que ela não estivesse desmagnetizada ou fosse mastigada dentro da máquina.

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Difícil de Matar (Hard to Kill – 1990)

Fúria Mortal (Out for Justice – 1991)

Um dos motivos que me fez unir os dois em um único texto é que simplesmente não conseguia me lembrar das tramas ao final das sessões. Os dois são sobre vingança.

Em “Difícil de Matar”, o herói de fala mansa fica em coma por sete anos, ostentando um cavanhaque risível, conseguindo a proeza de, em seu estado vegetativo, despertar a paixão avassaladora de uma linda enfermeira que se mostra emocionalmente despreparada e desastrada, vivida pela musa dos anos oitenta: Kelly LeBrock, que estava casada com o ator na vida real. Ele sai do hospital e, com pouco tempo de treino, consegue retomar toda sua habilidade nas Artes Marciais, um conflito interno que o roteiro resolve em uma rápida montagem. O diretor Bruce Malmuth, do bom “Os Falcões da Noite”, o projeto que quase foi “Operação França 3”, também conhecido popularmente como o filme do Stallone com barba, não consegue realizar algo acima do medíocre nessa fita.

A única cena interessante que consigo lembrar ocorre no primeiro ato, uma pancadaria numa loja de conveniência, onde Seagal exibe toda a indisfarçável arrogância que destruiu sua carreira e sua indiscutível perícia no Aikido. Adoro o momento em que ele bate um papo tranquilo com o ladrão que o ameaça com uma faca, chegando a se ajoelhar, convidando o marginal a tentar a sorte, pouco antes de transformá-lo em uma espécie de Curupira norte-americano.

Já em “Fúria Mortal”, Seagal interpreta basicamente o mesmo personagem, como sempre, apenas inserindo um péssimo sotaque italiano e o hábito estereotipado de beijar a face de seus amigos. Num ato que demonstra como ele é um ególatra insuportável na vida real, ele exigiu que cenas de seu antagonista fossem cortadas, já que eram defendidas por um ator de verdade: William Forsythe.

O diretor John Flynn emoldura todos os absurdos sem nenhum senso de humor, o que acaba tornando tudo intensamente mais engraçado. O segundo ato é arrastado, como se o roteiro estivesse sendo resolvido no dia das filmagens, mas melhora no desfecho. O herói de fala mansa testemunha um motorista se desfazendo de um cãozinho na estrada, elemento de ternura trabalhado no roteiro com mão de pedreiro com Parkinson, conduzindo para uma cena final que seria descartada como demagógica e inverossímil até em especiais televisivos de emissoras com baixo orçamento.

Mas, exatamente como o filme anterior, existe uma cena que redime o espetáculo: a pancadaria no bar. Seagal quebrando dentes com uma bola de bilhar vale o esforço de tentar induzir em seu subconsciente algum interesse no desenrolar da trama.



Viva você também este sonho...

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