Winchester ’73 (1950)

Homem participa de concurso de tiros para ganhar o melhor rifle já fabricado no mundo. Mas, após ganhar de seus competidores, seu prêmio é roubado por um antigo adversário. Ele vai atrás do ladrão no deserto em busca de seu tesouro mortal.

A importância do diretor Anthony Mann para o gênero do faroeste é incalculável. Obras como “O Caminho do Diabo”, “Almas em Fúria” e “O Homem do Oeste”, representam peças fundamentais no viés psicológico que fez com que o bang bang entre mocinhos e bandidos com personalidades e motivações muito bem definidas, tido até então pelo público como entretenimento pueril e pela indústria como uma opção barata que quase sempre reutilizava cenários e tramas, conquistasse maior refinamento com roteiros que primavam pelos tons de cinza nas caracterizações.

Esta abordagem, além de garantir a sobrevida do tema no cinema norte-americano, foi responsável, no futuro, pelo amadurecimento realista da estética nas produções italianas, com suas pradarias sujas e habitadas por personagens corruptíveis.

Do ciclo de cinco filmes em sua parceria com James Stewart, meus favoritos são “Um Certo Capitão Lockhart”, o último, e “Winchester ’73”, o primeiro e único em belíssimo preto e branco. Nele, o diretor trabalha um dos seus temas mais reconhecíveis, a figura do protagonista como sendo um reflexo exato do antagonista, vulnerável emocionalmente e com o mesmo ímpeto pela violência, mas contido por sua força de caráter. No caso, o simbolismo é ainda mais óbvio, já que os dois são irmãos separados por um ato cruel de covardia cometido por um deles.

O código moral do herói o impede várias vezes de cometer a tão desejada vingança, o que culmina no terceiro ato em um longo confronto em que ambos parecem, de fato, não querer acertar o alvo. Quando o corpo do vilão finalmente tomba, você sente a tristeza no rosto de Stewart. A simplicidade na concepção visual dos enquadramentos, algo que Mann aprendeu com o mestre John Ford, potencializa a crueza deste desfecho, um duelo em que os dois se esvaem um pouco a cada passo dado na direção de seu oponente.

É brilhante a forma como a trama escrita por Robert L. Richards e Borden Chase nos conduz desde o início a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos pela perspectiva da trajetória violenta do rifle Winchester ’73, peça importante na mitologia do Velho Oeste, indo de mão em mão, desde o seu status como prêmio inestimável em um torneio, passando por moeda de troca em um jogo de azar, até se tornar símbolo de prestígio para um chefe indígena.

O homem transformado que, na cena final, porta o estimado rifle, tão desejado por todos, não o faz com orgulho.



Viva você também este sonho...

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