Uma Lição de Amor (En Lektion i Kärlek – 1954)

Depois de quinze anos de casamento, David e Marianne estão se separando. Numa viagem para Copenhagen, David pega o mesmo trem que Marianne, fazendo com que pareça coincidência. Passando este tempo juntos, eles relembram momentos, refletem sobre o passado e o futuro e podem caminhar para uma reconciliação.

Passando por um momento complicado, após a fraca bilheteria de seu projeto anterior: “Noites de Circo”, Bergman viu a necessidade de, com pouco orçamento, filmar algo popular, mais leve, que tivesse real possibilidade de agradar o público. Ele sempre deixou bem claro que a única razão que o levava a dirigir comédias era o fator financeiro.

Eu gosto bastante dessas fugas da zona de conforto em sua filmografia, especialmente “O Olho do Diabo”, “A Flauta Mágica” e “Uma Lição de Amor”, em que ele se aproxima bastante do estilo norte-americano, com a dupla Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand emulando Katharine Hepburn e Cary Grant, com cenas curiosas de humor pastelão, mas executadas com a elegância irônica de Ernst Lubitsch.

É possível enxergar no filme várias sementes que germinariam em produções futuras. A reunião da família em flashback, com estas memórias movimentando a engrenagem emocional do protagonista, foi um conceito expandido em “Morangos Silvestres”.

Até mesmo o embrião de “Através de Um Espelho” pode ser encontrado na sequência em flashback do pai conversando com a filha adolescente, vivida por Harriet Andersson, revelando para ela que até mesmo a relação dos dois, outrora tão cálida, já não afugenta o frio existencial em sua vida, afirmação que magoa profundamente a menina.

Exatamente por Bergman ter um terreno inexplorado à frente, ele ficou motivado a correr mais riscos, ocasionando em pouco convencionais ângulos de câmera, uma espécie de irresponsabilidade técnica que acabou se provando altamente criativa. Um elemento interessante na trama é a personagem da adolescente, Nix, que não se sente confortável no corpo de uma mulher. Ainda que o tema não seja plenamente trabalhado, ganha pontos pela coragem na abordagem direta para a época.

“O leito conjugal é o fim do amor”, como inteligentemente afirma o protagonista, o ritual contratual do casamento aniquilando a naturalidade libertária do mais belo sentimento. O casal, já separado, refaz seu relacionamento desgastado em uma única viagem de trem como solteiros.

Uma joia subestimada no conjunto de obra do cineasta, o tipo de filme que você pode mostrar sem medo para alguém que diz não gostar do estilo dele.



Viva você também este sonho...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui