Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming – 2017)

Qual é o grande problema na indústria de quadrinhos nos últimos quinze anos? O imediatismo tolo, a tentativa frágil de elaborar universos compartilhados e sagas grandiosas, somente para, alguns anos depois, inventar alguma crise cósmica que joga tudo no lixo, reiniciando de um zero que já nasce sem relevância alguma. O leitor compra a revista sabendo que, em dois anos, aquelas histórias serão tidas como fora do cânone. E, na tentativa complicada de fazer tudo soar coerente, os roteiristas constroem pontes alicerçadas em cartolina, tramas com furos frequentes e soluções narrativas convencionais.

Quando o foco deixou de ser a qualidade do texto, quando os editores decidiram investir em arcos com prazo de validade curto, o mercado de quadrinhos deu um tiro no pé. Hoje, o adulto emocionalmente maduro compra apenas os tomos que resgatam histórias clássicas, sem paciência para as bobagens atuais, e a criança compra a revista mensal após a sessão do filme do herói que está na capa. A fórmula Marvel no cinema está cometendo os mesmos equívocos, deslizando precocemente na cronologia, produzindo tramas irrelevantes que funcionam apenas enquanto peças genéricas de uma engrenagem. O senso de diversão, eficiente nos primeiros projetos, agora soa repetitivo, o sorriso amarelo já prevê a punch line minutos antes, o público-alvo é formado por crianças e adolescentes
infantilizados que não se importam se irão pagar ingresso dois anos depois para a sessão de uma reinterpretação do personagem, o que vale é o oba-oba do momento.

Vou tentar entrar em contato neste parágrafo com esta garotada esperta. “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” é bacaninha quando homenageiam as comédias adolescentes de John Hughes, tem um vilão maneiro que voa tipo o Homem de Ferro, mas ninguém se importa com a motivação dele, ele nem é chamado pelo nome dos quadrinhos, o grande barato é ver o Michael Keaton tendo chance de atuar de verdade em uma cena rapidinha, só uma, dentro de um carro, demais! A Tia May é bem gata, milf sensacional, mas, tipo, não tem função na história, ela tem o mesmo senso de humor de todos os coadjuvantes das produções Marvel, o mesmo timing, incrível! Tem o Robert Downey Jr. também, ele quebra um galho como uma versão hipster do Tio Ben, que, aliás, nem é citado, mas uma versão sem relevância, sem gravitas, batendo ponto para ajudar na bilheteria, defende o
sermão daquele lance de “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, apesar
da frase símbolo do herói nunca ser dita, mas como Tony Stark não tem nenhuma
ligação emocional/familiar com o adolescente, perde qualquer potencial dramático que poderia representar no desenvolvimento do moleque.

Já perto do desfecho, quando teoricamente devíamos estar na companhia do protagonista, somos presenteados com o desenvolvimento da trama do herói coadjuvante, ou uma cena gratuita que tenta incutir importância a uma personagem que, se duvidar, ninguém percebeu que existia no roteiro escrito por seis pessoas, algo que nunca é um bom sinal. Nada na trama emociona, nada, nem um arrepio nas cenas de ação, todos os momentos
visualmente grandiosos são homenagens às sequências poderosas, verdadeiramente
épicas, de filmes melhores, como o impecável “Homem-Aranha 2”, de Sam Raimi. Ah,
tem uma reviravolta que pode surpreender os mais novos, até nove anos de idade, mas é trabalhada de forma tão apressada e preguiçosa que eles nem vão engasgar com a pipoca. Tom Holland como o herói, um adolescente de verdade, em suma, dá para entender porque o costume sempre foi selecionar atores mais velhos para interpretar adolescentes. Ele é carismático, defende bem a leveza do amigo da vizinhança, mas é dramaticamente limitado.

Jon Watts é um diretor inexpressivo que, como era de se esperar, não imprime qualquer personalidade. O resultado diverte medianamente, mas é esquecido minutos depois das luzes se acenderem.



Viva você também este sonho...

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