Uma Escala em Paris (Thirst Street – 2017)

A carreira do diretor Nathan Silver é bastante irregular, pouquíssimo conhecida no Brasil, mas até mesmo em seus filmes mais fracos, como “Ator Martinez”, os roteiros trazem conceitos muito originais e com doses generosas de um senso de humor nada convencional. “Uma Escala em Paris” é o seu melhor trabalho até o momento.

Quando encontramos a aeromoça Gina, excelente atuação de Lindsay Burdge, percebemos que ela se sente desvalorizada na vida, os passageiros até desviam o olhar quando ela se aproxima. A sua função profissional é servir, acalmar indivíduos em voos longos, mas também é ser escrava da repetição diária de códigos nada calorosos, verdadeiramente robóticos. Gina se sente vazia. A fotografia enevoada de Sean Price Williams, onírica, evoca o glamour caricatural dos musicais clássicos hollywoodianos que a bela protagonista utiliza como escapismo. A fonte utilizada no título remete às capas daqueles livros românticos antigos de banca de jornal, que defendiam a visão idealizada do amor em sua forma mais ritualística, socialmente confortável, para meninas ingênuas que enxergavam no encaixe do molde o caminho para a felicidade. Sem revelar muito sobre a trama, vale dizer que uma tragédia pessoal irá conduzir a mulher psicologicamente fragilizada aos braços de um grosseirão, vivido por Damien Bonnard, que, apesar de dar todos os sinais de que não se importa com ela, vai acabar envolvido em um relacionamento obsessivo, intensamente doentio.

O desespero que move a personagem não é alimentado pela solidão, ou pela tristeza advinda da tragédia, Gina necessita estar de acordo com as regras da sociedade, ela precisa estar casada com o príncipe encantado. A cartomante paga pelas amigas para fornecer a mentira prazerosa do amor à espreita, conforto imediatista, funciona como o gatilho que a liberta de todos os bloqueios morais. Ela abandona o emprego sem pensar duas vezes, passa a servir bebidas em um bordel elegante apenas para se manter mais próxima do seu alvo. Ao acreditar em sua fantasia, ela se desconecta completamente de seu ego, o aspecto fabulesco é reforçado pela utilização da tranquila narração de Angelica Huston.

Não se deixe enganar pelo péssimo título em português, você está diante de um dos melhores filmes do ano.

Cotação: devotudoaocinema.com.br - Não se deixe enganar pelo péssimo título BR, veja "Uma Escala em Paris"!



Viva você também este sonho...

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