Os Companheiros (I Compagni – 1963)

Sinegaglia (Marcello Mastroianni) é um professor desempregado que é obrigado a visitar um amigo na cidade de Turim. Chegando lá, ele ajuda na criação de um sindicato para os empregados de uma fábrica local.

Quando penso na obra, a primeira cena que lembro é a do canivete enferrujado do trabalhador miserável que, por pena, conquista a permissão para furar a greve dos operários da fábrica. Intimidado pelos patrões, sozinho diante das máquinas desligadas, ele se revolta ao escutar que, por não dedurar o mandante, pode se unir à eles na rua. O homem luta contra a pequena arma branca que carregava, incapaz de utilizar sua lâmina, pisando desesperado nela. Depois de ser preso, o grupo faz uma coleta e entrega o dinheiro para a família dele.

O filme se tornou muito popular no Brasil à época, em plena ditadura militar, antes de sua interdição, exibido em sindicatos, cineclubes e universidades, mas o diretor sempre deixou claro que era socialista, não comunista. Ele, um homem inteligente, sabia que a organização partidária da ideologia serve mais aos interesses escusos de poder, algo que os brasileiros estão percebendo melhor nos últimos anos com todos os escândalos de corrupção. Por trás de todo partido socialista, existe alguém lucrando com o vitimismo, administrando a massa de manobra.

E existe uma camada de ironia no roteiro que os espectadores de extrema esquerda outrora não captaram, ao final de tudo, as ideias revolucionárias do líder carismático dos operários, o professor maltrapilho vivido impecavelmente por Mastroianni, conduzem ao desastre. Na sequência final, o levante causa a morte de um trabalhador que será substituído na engrenagem do trabalho braçal por seu irmão mais novo, que estava já se encaminhando nos estudos. E o líder da revolução? Após ser estapeado pela mulher que chora a morte do rapaz, ele se preocupa mais em procurar seus óculos no chão, abandonando covardemente o local após a tragédia que provocou.

“Os Companheiros” é uma das melhores obras sobre o movimento grevista exatamente porque não se apoia em signos partidários, não é panfletário, mas, sim, profundamente humanista, já que seus personagens desejam apenas sobreviver com um mínimo de dignidade, bradando contra um sistema absurdamente cruel que não oferecia sequer seguro contra acidentes, como é denunciado logo no início, quando o operário idoso, cansado com a carga de quatorze horas diárias, perde o braço na máquina.

Vale ressaltar que, apesar do tema ser espinhoso, o tom é mantido leve, com rompantes deliciosos de humor.



Viva você também este sonho...

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns Otávio!! Ótima análise sobre o filme. Ele foi exibido pelo Clube de Cinema de Salvador, que era comandado pelo saudoso Walter da Silveira. Enfrentando a ditadura que tentava impedir esses filmes. Tempo difícil e de muita perseguição à cultura.

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