Os detetives orientais Charlie Chan, Mr. Moto e Mr. Wong, praticamente desconhecidos hoje em dia, povoavam a imaginação de leitores e cinéfilos de todas as idades nas décadas de 30 e 40. As produções de baixo orçamento capturavam a atenção das plateias, mas, infelizmente, acumulam poeira nas prateleiras do tempo, vítimas de uma geração totalmente desinteressada pela preservação da memória cultural. Eu selecionei três pérolas que você encontra facilmente garimpando na internet.

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Charlie Chan na Ópera (Charlie Chan at the Opera – 1936)

Há alguns anos, Gravelle (Boris Karloff), um famoso cantor lírico, está internado em um sanatório mas ninguém sabe quem ele é, pois sofre de amnésia. Repentinamente ele lê uma notícia no jornal e foge. Quando acontece um crime na ópera, ele é considerado o principal suspeito por um detetive da polícia. Para ele o caso está fechado, mas Charlie Chan (Warner Oland) não está totalmente convencido da culpa de Gravelle e nem que ele seja realmente louco.

O meu primeiro contato com o personagem criado por Earl Derr Biggers foi, na infância, através do desenho animado “As Aventuras de Charlie Chan”, da Hanna-Barbera, que passava nas manhãs televisivas, com a dublagem maravilhosa de Telmo de Avelar e André Filho. Anos depois, nas longas tardes passadas na locadora de vídeo, acabei sendo atraído para o estojo do VHS de “Charlie Chan na Ópera”. O que despertou meu interesse foi mais a menção da ópera, tema que dominava meu gosto musical (meu disco favorito na época era “Os Três Tenores In Concert”). A distribuidora era a Continental, logo, várias fitas apresentavam problemas, mas o preço da locação valia o risco.

O protagonista era muito cativante, mérito da simpática interpretação do sueco Warner Oland, um detetive avesso à violência e que citava Confúcio, um estilo totalmente diferente de outros detetives da literatura e do cinema. O mistério no filme, dirigido por H. Bruce Humberstone, com clara referência à “O Fantasma da Ópera”, tem uma camada de ternura fascinante, envolvendo o personagem vivido pelo lendário Boris Karloff, um fugitivo de um sanatório que invade a casa de ópera, mostrando impressionante talento musical. Crimes ocorrem nos bastidores, Charlie Chan é então convocado para a missão, acompanhado de seu esforçado filho, vivido por Keye Luke, que tenta de todas as formas auxiliar o pai na investigação.

Outro mérito considerável da obra é a atmosfera perfeita de suspense que é estabelecida logo no início, com a câmera conduzindo o espectador através da chuva ao encontro de Gravelle (Karloff) em seu piano, o roteiro verdadeiramente dificulta para o público decifrar o enigma, algo que seria raro nas produções posteriores protagonizadas por Sidney Toler, com exceção de “Charlie Chan na Ilha do Tesouro”.

Se você tem interesse em conhecer esta franquia, eu recomendo que comece pelo divertidíssimo “Charlie Chan na Ópera”.

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Mr. Wong, Detetive (Mr. Wong, Detective – 1938)

Quando um fabricante de produtos químicos é eliminado depois de pedir ao detetive James Wong (Boris Karloff) para ajudá-lo, Wong investiga este e dois crimes subsequentes.

O protagonista, criado na literatura por Hugh Wiley, é um profundo conhecedor da cultura oriental, ele utiliza este estofo para solucionar seus casos, só que, ao contrário de Charlie Chan, não há interesse em reduzir sua persona à uma caricatura cômica, Karloff se comunica em inglês perfeito, sem sotaque forçado e desajeitado. A sua abordagem profissional também é bastante diferente, muito sério, compenetrado, eventualmente permite que o público perceba vulnerabilidade, dúvida, elemento que humaniza e torna mais crível a admiração que conquista de todos os envolvidos.

Auxiliado pela direção segura de William Nigh, o roteiro simples e eficiente conduz o espectador pela mão até um desfecho verdadeiramente incrível, muito superior (em proposta e execução) ao padrão dos seus similares do mesmo período. O tempo foi muito generoso com esta obra da modesta Monogram Pictures.

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O Misterioso Mr. Moto (Think Fast, Mr. Moto – 1937)

Em um cargueiro que vai de San Francisco para Shanghai, Mr. Moto (Peter Lorre) resolve mistérios causados por uma quadrilha de contrabandistas.

O competente Norman Foster, que viria a dirigir a clássica série “Zorro” (com Guy Williams), injeta encantadora leveza nesta adaptação do detetive literário criado por John P. Marquand, nascido originalmente nas páginas da Saturday Evening Post como substituto de Charlie Chan, após o falecimento de Earl Derr Biggers.

É curioso pensar que Peter Lorre inicialmente se mostrou incomodado com o projeto, mas não pôde negar, já que estava retornando de uma clínica de reabilitação, a sua entrega é perceptivelmente apaixonada, favorecendo a persona meiga, mansa (enquanto todos tomam whisky, ele opta por um copo de leite) e extremamente educada de um estudioso budista, verniz social que esconde uma força de espírito indomável, alguém que sabe ser ameaçador quando necessário, um mestre dos disfarces que não pensa duas vezes antes de fazer uso de seus conhecimentos em artes marciais, aliás, característica que o difere de Charlie Chan e Mr. Wong.

O filme é, acima de tudo, muito divertido, merece ser redescoberto.



Viva você também este sonho...

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