Shakma – A Fúria Assassina (Shakma – 1990)
Eu já escrevi isto várias vezes, uma das minhas lembranças mais queridas envolvendo cinema em casa é o “Cine Trash”, sessão vespertina apresentada por José Mojica Marins na Band em 1996.
Como um pré-adolescente apaixonado pelo horror, aquilo parecia um sonho, ver aquelas fitas difíceis de encontrar nas locadoras de vídeo, material que alimentava minha imaginação em matérias nas revistas temáticas, sendo transmitidas diariamente. O meu aparelho de VHS cansou de tanto gravar neste período, eu preparava com todo carinho artesanalmente as capas, ficava revoltado quando, por qualquer motivo, acabava a energia elétrica bem na hora do filme, ficava rezando para que o título fosse reprisado logo, em suma, altas emoções.
A maior audiência do programa foi com “Shakma – A Fúria Assassina”, informação que só fui descobrir muitos anos depois, mas que não me surpreendeu, já que, dentre todas as exibições, talvez seja a obra que ficou mais marcada em meu saudosismo. Eu consigo lembrar exatamente o clima da tarde em que vi pela primeira vez, céu nublado, friozinho, sexta-feira maravilhosa, aquela euforia que todo adolescente conhece, consciente de que só precisa se preocupar novamente com escola no domingo de noite, quando batia aquela leve depressão. Naquela época, dois dias duravam uma linda eternidade. Neste espírito relaxante, sentei no sofá quinze minutos antes, para deixar preparado o gravador, sem risco de perder sequer um minuto, abri o saquinho de Cheetos Tubo, com o refrigerante do lado, e abracei aquele momento. O simples prazer destas vívidas experiências caseiras até hoje me emociona.
O subgênero do eco-horror, a natureza se vingando das interferências negativas do homem, já existia na década de 50, mas ganhou força no mainstream no início da década de 80, com a ascensão dos movimentos ambientalistas. Várias produções abordavam testes em animais e manipulação genética, “Shakma” foi uma das mais simpáticas, fazendo milagre com baixíssimo orçamento, utilizando os códigos do terror slasher, o que garantia na trama a presença de um grupo de estudantes de medicina deliciosamente abestalhado, jovens nerds estereotipados que jogavam RPG nas horas vagas e só pensavam em paquerar. O babuíno descontrolado, nos moldes do “Tubarão” de Spielberg, aparece pouco, mas serve eficientemente sua função, com os enquadramentos privilegiando a sensação de pânico nas vítimas.
No elenco, o veterano Roddy McDowall (da franquia “O Planeta dos Macacos” e “A Hora do Espanto”), Amanda Wyss (a Tina, de “A Hora do Pesadelo”) e Christopher Atkins (o protagonista de “A Lagoa Azul”). Ao rever para este texto, obviamente constatei que não sobreviveu ao teste do tempo, mas segue charmoso e divertido. O senso de ameaça é constante nos corredores vazios do prédio de pesquisas, bons sustos e uma dose equilibrada de humor negro, recomendado para pais que querem iniciar seus filhos pequenos no gênero.
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