A Lenda do Sol dos Últimos Dias do Xogunato (Bakumatsu Taiyôden – 1957)

Nos últimos dias do Xogunato, um homem engenhoso procura enganar mulheres da vida e samurais rebeldes, na luta para sobreviver aos tempos difíceis.

A obra-prima farsesca de Kawashima, diretor injustamente esquecido internacionalmente, retrata com inteligência o declínio da sociedade Edo, governada pelos xoguns da família Tokugawa, que conduziria à modernização econômica do Japão na restauração Meiji, e, por conseguinte, a abolição da classe guerreira dos samurais, que vivia com subsídio governamental.

As ações do protagonista malandro e oportunista, vivido pelo comediante Frankie Sagai, reforçam o paralelo sinalizado já na abertura, ambientada à época das filmagens, refletindo a visão pessimista e irônica do diretor sobre os rumos de seu país na década de 50, da hipócrita proibição do trabalho mais antigo do mundo à ganância desmedida dos poderosos, contrastando com a crise financeira que impactava o povo. No roteiro, vale destacar a mão do mestre Shohei Imamura.

O plano de Saheiji (Sagai), que parece ser capaz de se adaptar a qualquer circunstância, é se esconder em um depósito abandonado embaixo da escada do estabelecimento, encontrar uma forma de compensar a impossibilidade de pagar suas dívidas e, neste processo, embolsar todo tipo de presentes e favores dos clientes, obtidos consensualmente ou não, caminho tortuoso que leva o rapaz a se envolver com toda sorte de figuras exóticas, como samurais insurgentes e gueixas rivais.

O terceiro ato ganha peso dramático, quando é revelado ao personagem uma verdade inexorável, presenteando o espectador no desfecho com uma imagem plena em simbolismo, que ressignifica boa parte da trama e incita reflexões inesperadas após a sessão.

A obra é amada no Japão, extremamente popular, aparece em várias listas respeitadas nas posições mais altas, símbolo embrionário da Nuberu Bagu (nouvelle vague japonesa), merece ser descoberta no Brasil.



Viva você também este sonho...

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