O Fascínio (Il Legame – 2020)
Durante uma viagem ao sul da Itália para conhecer a mãe do noivo (Riccardo Scamarcio), uma mulher (Mía Maestro) luta contra forças misteriosas que ameaçam sua filha (Giulia Patrignani).
O longa-metragem de estreia do roteirista/diretor Domenico de Feudis é uma aula de construção de clima, remetendo ao tempos áureos dos mestres italianos do gênero, como Lucio Fulci, Mario Bava, Dario Argento e Sergio Martino, com uma trama inteligentemente enxuta (aprendizado proveniente de sua experiência como curta-metragista), elenco afinadíssimo, uma atmosférica incursão no terror que, desde a cena inicial, agarra o espectador pelo colarinho e não larga mais.
O conceito, similar à pérola “A Árvore da Maldição” (leia meu texto AQUI), de William Friedkin, trabalha alegoricamente, por trás do misticismo inerente ao sobrenatural, o valor da família e de preservar o princípio da vida dos nascituros, elemento que provavelmente renderá à obra o injusto desprezo ou muitas críticas negativas nos veículos mainstream por questões ideológicas.
É elegante a forma como o diretor presta reverência às convenções do horror rural (seu representante mais famoso, “O Homem de Palha”, de 1973), combinando-as aos traços mais reconhecíveis do subgênero de possessão, sem se debruçar demais nos truques desgastados de susto, ele entende que a essência do medo está mais naquilo que não se enxerga, o design de som realça cada sussurro, os enquadramentos potencializam os arrepios, a fotografia capta este direcionamento, aproveitando bem os sombrios ambientes na decrépita mansão e os arredores da propriedade campestre.
“O Fascínio” é muito competente, com uma reviravolta realmente inesperada e eficiente, um projeto que acerta principalmente por levar a sério sua trama.
Cotação: