A Última Carta de Amor (The Last Letter From Your Lover – 2021)
Depois de encontrar uma série de cartas de amor de 1965, uma repórter (Felicity Jones) decide resolver o mistério de um romance secreto – e, quem sabe, se apaixonar também?
A adaptação do livro homônimo da premiada britânica Jojo Moyes, por Esta Spalding e Nick Payne, experientes na dramaturgia televisiva, dirigida pela texana Augustine Frizzell e com fotografia de George Steel, acerta na atmosfera romântica elegante, sem qualquer viés ideológico insidioso na trama (algo cada vez mais raro), afinada no diapasão clássico dos melodramas europeus, leia-se, iluminação suave, longos silêncios e enquadramentos discretos, um estilo que, hoje em dia, não costuma ser adotado em projetos direcionados ao público jovem, atitude que deve ser aplaudida.
O processo de reconstituição da década de 60 é tecnicamente competente, figurino, direção de arte e, principalmente, direção de elenco (evita o equívoco comum de soar falso, fora do tom do período, no comportamento em cena e na entrega dos diálogos), o trabalho de Shailene Woodley é impecável nos dois momentos de sua personagem, a vibrante jovem inconsequente e a dona de casa endinheirada que se recupera da amnésia, algo que facilita a suspensão de descrença e a imediata imersão emocional do espectador.
Já na história paralela contemporânea, protagonizada pela jornalista que não quer ligações afetivas, vivida por Felicity Jones, o texto perde consideravelmente a sua força, desenvolvido com pinceladas rápidas, as tentativas de humor são ligeiramente forçadas, talvez, por este motivo, este núcleo receba menos atenção, como se, de forma consciente ou não, o próprio filme não escondesse preferir se manter o maior tempo possível no passado.
A trama em alguns pontos remete à “Tarde Demais Para Esquecer” (com Cary Grant e Deborah Kerr) e “A Mulher do Tenente Francês” (com Meryl Steep e Jeremy Irons), em outros, “Diário de Uma Paixão” (com Ryan Gosling e Rachel McAdams) e “Nunca Te Vi, Sempre Te Amei” (com Anne Bancroft e Anthony Hopkins), as boas referências culturais são perceptíveis no material original, não é definitivamente o tipo de produto raso, bobinho, que usualmente é lançado no gênero, mas também não reinventa a roda, a proposta não é ser imprevisível, o resultado emociona bastante, creio, mais por aquilo que representa, por resgatar uma pureza bonita que se perdeu nas últimas décadas.
“A Última Carta de Amor” é uma obra perfeita para os sonhadores, aqueles que não aceitam os cínicos dias atuais, um romance à moda antiga que respeita a inteligência do público e que, um toque lindo, entrega uma declaração de amor à palavra escrita.
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