Val (2021)

Documentário centrado na vida diária do ator Val Kilmer, apresentando imagens nunca antes vistas ao longo de 40 anos, abordando a infância, o auge do sucesso e sua vida após o câncer na garganta.

O documentário é uma gratíssima surpresa, uma visão autobiográfica poética, melancólica e extremamente lúcida sobre a essência do que é ser um artista, da importância de respeitar sua arte, sem se perder nas concessões profissionais.

Val Kilmer, conhecido mundialmente por seus papeis em pérolas como “Top Gun”, “The Doors”, “Tombstone” e “Batman Eternamente”, ganhou fama de difícil em sua carreira, foi bastante prejudicado na indústria, boicotado e colocado na geladeira, mas basta ver este filme para entender os motivos: ele não se submete, ele é um fervoroso cristão e, claro, jamais se curvou ao conformismo na busca por aprimorar seu trabalho.

A utilização dos vídeos de arquivo é muito sensível, estabelece paralelos tocantes e nada óbvios, demonstrando segurança no ritmo tranquilo em que vai jogando luz nos eventos mais tristes da vida de Kilmer, que, vale ressaltar, corajosamente aceita se despir da vaidade, frequentemente brincando com sua situação física atual. Não há melodrama forçado, o senso de humor do homenageado preenche até mesmo os momentos mais sombrios. Ao se ver impossibilitado de se expressar com desenvoltura, logo ele, alguém tão verbal, canaliza então sua energia no campo etéreo das abstrações visuais, como se tocasse seus dias como um pintor dedicado, com pinceladas vigorosas e silêncios profundos que dizem muito.

A dor que ele transmite é mais interna, a saudade do irmão falecido precocemente, os sacrifícios financeiros que precisou fazer ao longo da jornada, a frustração por ter quase conseguido realizar seu projeto dos sonhos, viver Mark Twain em seu próprio roteiro de cinema, infelizmente interrompido pelo diagnóstico do câncer na garganta. Um dos aspectos mais bonitos na execução da obra é que a voz que escutamos narrando os acontecimentos, representando Kilmer, é do jovem filho do ator, opção plena em simbolismo.

É comovente a cena em que ele, muito debilitado, luta contra seu próprio corpo para atender seus fãs numa convenção geek, autografando cartazes que estampam seus dias de glória, reconhecendo que sobrevive apenas como memória, o sorriso frágil escondendo a angústia por saber que ainda havia tanto a oferecer, tanto a aprender, tantos desafios para sua intensa criatividade.

“Val” é um tesouro para cinéfilos apaixonados, um dos melhores filmes do ano.

Cotação: devotudoaocinema.com.br - Crítica de "Val", de Ting Poo e Leo Scott, na AMAZON PRIME



Viva você também este sonho...

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