Hellraiser – Renascido do Inferno (Hellraiser – 1987)

Em sua casa londrina, Frank Cotton manipula um quebra-cabeça que, segundo uma lenda, traria a quem o desvendasse eternos e desconhecidos prazeres. Em vez disso, ele se torna presa dos cenobitas, criaturas sobrenaturais que extraem sua força da tortura e do sofrimento alheio.

Imagine a cara da atendente da locadora, ao ver um menino de sete anos discutindo com o pai, para que ele alugasse pela vigésima vez um filme sobre cenobitas do inferno, prazer e dor, em suma: Clive Barker. Eu adorava tanto “Hellraiser”, que uma vez cheguei a pedir de presente de Natal um daqueles cubos. E, em uma época em que souvenires geeks eram inexistentes, ter um cubo de Lemarchand na estante era tarefa impossível.

Eu me lembro de ficar numa felicidade extrema ao encontrar na banca de jornal uma revista em quadrinhos com o Pinhead na capa, uma publicação da Editora Abril Jovem que durou pouco tempo. Comprei na hora, para espanto do jornaleiro. Qualquer cena que insinuasse a presença do Frank, o “homem sem pele”, como eu chamava na época, dentro do quarto escuro, já me deixava completamente apavorado.

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Terror foi o meu gênero de formação, presença marcante durante grande parte da minha infância e pré-adolescência. Estudava sobre suas variadas vertentes e andava para todo lado com um ótimo “Guia de Vídeo – Terror”, lançado pela Editora Escala, que guardo até hoje com carinho. Perdi a conta de quantas vezes eu lia aquele guia, que utilizava frequentemente em minhas garimpagens nas locadoras da região.

E, sendo um apaixonado por trilhas sonoras de cinema, aplaudo de pé o trabalho do compositor Christopher Young nos dois primeiros filmes, em especial as faixas “Hellraiser”, “Ressurrection”, “Seduction and Pursuit” e “The Cenobites”.

O período era dominado pela infantilização dos slashers. Jason havia acabado de ressuscitar com uma descarga elétrica, Freddy havia se tornado o Bob Hope do inferno, combatendo jovens superpoderosos nos sonhos. O grande diferencial do cenobita vivido por Doug Bradley era a profundidade filosófica de sua ameaça, que ia muito além do fator visual. O clima, mérito da fotografia de Robin Vidgeon, transmitia um horror quase tangível, adaptando com brilhantismo a essência lovecraftiana dos primeiros capítulos do livro.

Até mesmo a figura da personagem feminina que combate o assassino, elemento convencional no gênero, ganhava em credibilidade com a presença de Kirsty, vivida por Ashley Laurence, longe do estereótipo frágil de vítima. Ela confronta também a madrasta Julia, vivida por Claire Higgins, uma mulher capaz de tudo para reviver sua paixão de outrora.

“Hellraiser – Renascido do Inferno”, em revisão, segue tremendamente eficiente, uma aula de construção de clima, obra-prima em seu gênero, da época em que os filmes ainda eram pensados para o público adulto, e, principalmente, da época em que os adultos eram psicologicamente maduros.



Viva você também este sonho...

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