Gladiador 2 (Gladiator 2 – 2024)
Lúcio (Paul Mescal) deve entrar no Coliseu após os poderosos imperadores de Roma conquistarem sua terra natal. Com raiva no coração e o futuro do império em jogo, ele olha para o passado para encontrar a força e a honra necessárias.
Eu me recordo bem da recepção fria e até debochada de boa parte da crítica à época do lançamento do primeiro, não conseguia entender esta atitude, a trama bebia da fonte de épicos como “A Queda do Império Romano”, “Spartacus” e “Ben-Hur”, entregava emoção e empolgava, em suma, cumpria com extrema competência a sua proposta.
O tempo passou e fez justiça ao esforço da equipe, uma geração cresceu memorizando o discurso do personagem vivido por Russell Crowe. E agora, 24 anos depois, Ridley Scott opera um pequeno milagre, uma sequência inesperada que honra a essência da obra e que, em vários aspectos, consegue superar o original.
Aos olhos mais atentos, aos mais lúcidos, fica óbvia a mensagem principal, afinal, o mundo pôde enxergar claramente nos últimos anos o nível de crueldade que pode ser experimentado quando o povo se curva à tirania de psicopatas.
Os imperadores irmãos Caracalla (Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn) representam a intensa maldade que pode ser cometido por pessoas fracas, inseguras, doentias e infantilizadas. Mas há também o elemento com caráter serpentino, que manipula tudo e todos objetivando poder supremo, alguém desprovido de régua moral, sem honra, sem gratidão, verdadeiramente desalmado e movido pelo ódio, pelo rancor.
Os dois tipos são muito bem trabalhados no roteiro de David Scarpa, há um diálogo especificamente brilhante, defendido pelo personagem de Denzel Washington, sobre a natureza pantanosa da política, o jogo sujo.
O contexto histórico facilita a alegoria, a brutalidade da arena sendo utilizada para manter a massa controlada, submissa, comportada. E quando o povo passa a enxergar a terrível realidade por trás do véu do “pão e circo”, ele se revolta, e, neste momento, os soldados imediatamente voltam suas flechas para o público.
Um ponto muito inteligente na trama, algo que é melhor compreendido após a sessão, o apreço de um personagem pela raiva intensa que o jovem protagonista carrega, pois sabe que é muito mais fácil manipular alguém tomado pelo ódio do que pela lucidez. O desenvolvimento desta relação fala abertamente sobre o mundo em todas as épocas. Quando o objetivo é o totalitarismo, os titereiros do caos sempre alimentam o rancor e o vitimismo.
Não há como mensurar a importância da presença do grande Denzel Washington na equação de sucesso deste filme, a sua inteligência ao compor o enigmático Macrinus, com nuances desafiadoras, joga constantemente com o espectador. Ele se mostra visivelmente motivado, a força motriz do início ao fim.
Não quero revelar muito, para não estragar a experiência emocional, mas preciso ressaltar a beleza do desfecho. A cena é rica em simbolismo, muito sensível, delicada, característica raríssima nos tempos atuais.
“Gladiador 2” é um dos melhores filmes na carreira de Ridley Scott.
Cotação:
- O filme estreia nesta semana nas salas de cinema brasileiras.
Trailer: