Críticas

“Rocky – Um Lutador”, de John G. Avildsen, na AMAZON PRIME

Rocky – Um Lutador (Rocky – 1976)

“Rocky” é muito mais que lutas coreografadas em um ringue. Trata-se do sonho de Sylvester Stallone transmitido aos quatro cantos do mundo, a sua história refletida em cada pessoa da plateia. “Rocky” somos todos nós.

O jovem ator tinha em sua mente, desde o princípio, toda a saga desse pobre sujeito que nunca havia conquistado nada em sua vida. Inculto e complexado, ele trabalhava como cobrador para um agiota local e, mesmo sem muita técnica, lutava boxe por uns trocados. A sua atitude tranquila no dia a dia comprova que a opção de lutar não era uma pretensão genuína, mas sim uma fuga de uma vida real ordinária.

Durante alguns minutos, ele tornava-se importante e poderoso, mesmo em ringues pouco iluminados e para uma plateia de bêbados e frustrados. O seu coração encontrava consolo na timidez doentia de uma atendente de pet shop, que, por alguns momentos, dava atenção às suas brincadeiras desajeitadas, agindo quase como uma psicóloga, sem se preocupar com suas origens.

A sua grande oportunidade aparece quando o campeão de boxe, refinado e irônico, decide dar oportunidade (como deboche) a um lutador regional de disputar seu título em comemoração ao bicentenário dos Estados Unidos. Por puro acaso, ajudado por sua descendência italiana e apelido curioso: “O Garanhão Italiano”, o jovem é o escolhido para o evento. Seria ele capaz de aguentar um round inteiro contra o campeão mundial? As estatísticas mais esperançosas afirmavam que ele não suportaria nem dois rounds.

Daquele momento em diante, iniciava a sua batalha interior, muito mais violenta que a exterior nos ringues, em que ele teria que provar a si mesmo que seria capaz de ficar de pé, apanhando duramente, mas mantendo-se consciente até o final. Ele sabe que não tem o talento necessário, que não possui estrutura física e mental para acompanhar as estratégias do oponente, porém, sua dignidade irá guiá-lo até o soar do gongo final.

Não importa o resultado. Caso consiga se manter de pé ao final, saberá que sua vida vale alguma coisa, que é alguém. Ao final da luta, não interessava se havia se sagrado vencedor, empatado ou perdido, pois a maior vitória ele já havia conquistado: a confiança em si mesmo e o amor da mulher de sua vida.

Com este roteiro simples e genial em mãos, o jovem bateu de porta em porta procurando um estúdio que se arriscasse em promover o produto de um novato. Os produtores Robert Chartoff e Irwin Winkler adoraram a ideia e já imaginaram no papel principal alguns astros de renome, como James Caan e Robert Redford, mas o jovem disse que só venderia o roteiro se o deixassem protagonizá-lo. O acordo foi feito mediante a obrigação de manter os custos de produção abaixo da média. Logo, juntaram-se ao elenco Talia Shire (Adrian), Carl Weathers (Apollo), Burt Young (Paulie) e Burgess Meredith (Mickey), formando assim um núcleo perfeito em que a camaradagem era uma constante, o que possibilitou a realização de várias continuações.

Com o auxílio de uma trilha sonora empolgante de Bill Conti e uma direção competente de John G. Avildsen, remando contra a corrente de filmes depressivos nas salas norte-americanas, “Rocky” foi um sucesso popular sem precedentes, com plateias que se emocionavam com o romance dos protagonistas e vibravam na luta final, como se estivessem vendo um desafio profissional no Madison Square Garden.

A realidade é que a verba incrivelmente reduzida ajudou na criação de várias cenas que entraram para a história, como o treino do protagonista e sua simbólica escalada final na escadaria do Museu de Arte da Filadélfia. A analogia é clara, o treino só finaliza quando o personagem consegue chegar ao topo, sem se cansar. Quase uma subida aos céus, antes de descer ao inferno da luta.

O filme que nenhum estúdio queria levou o Oscar de melhor produção do ano. Stallone tornou-se um sobrenome facilmente reconhecível no mundo todo e havia recebido permissão para a realização de uma continuação, agora acumulando as funções de ator, roteirista e diretor. Muitos afirmam que não existem méritos nas continuações da saga, discordo veementemente. O que existe é uma tentativa deliberada de críticos pseudointelectuais de menosprezar qualquer coisa que seja popular demais.

“Rocky” não é popularesco, simplista, ele apenas possui uma maneira de transmitir sua mensagem de forma direta e eficaz, de fácil entendimento. O fascínio popular do personagem vai além dos filmes, suas músicas tocam até hoje, o seu tema virou sinônimo do esporte. O pugilismo na trama é uma alegoria para as batalhas que enfrentamos diariamente.

Cotação: 

Trilha sonora composta por Bill Conti:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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