Thelma e Louise (Thelma and Louise – 1991)
Cansadas da vida monótona que levam, duas amigas, uma garçonete quarentona (Susan Sarandon) e uma jovem dona-de-casa (Geena Davis) resolvem deixar tudo para trás num fim de semana. Mas no caminho se envolvem em encrencas e acabam sendo perseguidas pela polícia.
Eu era criança, mas lembro muito bem do efeito de ver “Thelma e Louise” pela primeira vez naquela noite de sexta-feira com meus pais, alugado em VHS, após semanas aguardando na fila da “RG Vídeo” do amigo Ricardo. A reação de choque, queixo literalmente caído, arrepiado dos pés à cabeça, olhos marejados, com aquele desfecho surpreendente e que só melhora a cada revisão. Nas semanas seguintes, a maravilhosa trilha sonora, em LP, rodava sem parar na vitrola.
“Até encontrarmos a ponte que atravessa a eternidade, até que essa grande ilusão nos traga para casa, você e eu estaremos sempre juntas.” (“Part of Me, Part of You”, composta por Glenn Frey)
A roteirista Carolyn Khouri nunca mais conseguiu se destacar em Hollywood, escreveu bobagens como “O Poder do Amor” (1995) e “Divinos Segredos” (2002), mas a sua entrada na indústria, após produzir videoclipes de artistas como Alice Cooper, foi uma demonstração de coragem inegável, principalmente para a época, garantindo à produção a estatueta de Melhor Roteiro Original.
Havia receio por parte dela à respeito da direção de Ridley Scott, reconhecido então mais por suas incursões na ficção científica, mas um olhar atencioso em pérolas como “Blade Runner”, “Alien” e “A Lenda” bastaria para constatar que o britânico primava pela sensibilidade. Outra curiosidade, Meryl Streep chegou a ser cogitada para um dos papeis protagonistas, mas ela exigia que o final fosse radicalmente modificado, tremenda bola fora da veterana. Por outro lado, Susan Sarandon brigou com o diretor para que a marcante cena no roteiro fosse respeitada ipsis litteris.
O passeio escapista das duas, divertido e até patético em muitos sentidos, ganha ares intensamente sombrios quando Thelma se envolve com um grosseirão num bar de estrada. O que parecia um flerte pueril vai se tornando agressivo, com Louise defendendo a amiga com um trabuco, situação explosiva que culmina em um tiro impulsivo, a indesejada atenção da polícia e uma fuga que muda completamente a vida das amigas. O ponto é que, apesar de todas as loucuras que ocorrem na estrada, apesar até mesmo do consciente falecimento prematuro, a mudança é claramente positiva.
Nas primeiras cenas, vemos Thelma pedindo a permissão do marido para passear, visivelmente preocupada com sua reação, um casamento obviamente de fachada, falido, sustentado apenas pela insegurança do casal. Ao final, ela, internamente reestruturada, dá o sinal para Louise acelerar o veículo e recebe o redentor beijo nos lábios daquela que efetivamente a ensinou a revidar, um belíssimo arco narrativo.
A imagem das mulheres sorridentes no Ford Thunderbird 66 à toda velocidade, com os cabelos desgrenhados e os rostos sujos pela poeira do deserto, representa bem o alívio de quem finalmente se vê livre dos ritos sociais.
Cotação:
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Uma crítica ,abusivamente, condensada em detalhes preciosos que tem a tessitura da delicadeza. Parabéns!!!!!