Utopia (Atoll K/Utopia – 1951)
Stan e Ollie recebem de herança uma ilha particular. Tentando navegar até a ilha, eles acabam presos em um atol, onde estabelecem suas próprias leis e governo.
Após um período ruim na Fox, durante a década de 40, presos em roteiros fraquíssimos e preguiçosos, Stan Laurel e Oliver Hardy pausaram suas carreiras por 5 anos, até que tiveram a chance de resgatar o brilho de seus clássicos nesta coprodução franco-italiana, convidados por fãs que estavam dispostos a garantir um financiamento acima da média. Infelizmente, as filmagens que tomariam doze semanas, acabaram se tornando desgastantes doze meses.
Um dos problemas é perceptível em cena, Laurel, visivelmente doente, mais magro, abatido, sofria com a diabetes e precisou ser hospitalizado durante o processo. Apaixonado por seu trabalho, ele enfrentou o desafio e conseguiu entregar o humor físico que algumas cenas pediam. Hardy, por outro lado, teve seu quadro cardíaco piorado, ganhou mais peso, também precisou de auxílio médico.
Já o roteiro do diretor Léo Joannon, alvo de críticas da dupla desde o início, precisava ser lapidado, o conceito era bom, mas a execução era terrível, a dupla então convocou os antigos parceiros Alfred Goulding e Monty Collins para operar milagres, gags que evocassem o espírito da era silenciosa. Na direção, Joannon se provou bem-intencionado, mas incompetente, logo, o norte-americano John Berry foi inserido na equação, sem levar crédito, para tentar minimizar o estrago.
A obra estreou em 1951 e foi apedrejada pela crítica e pelo público, Laurel e Hardy eventualmente seriam aplaudidos nos palcos, mas “Utopia” marcou o último trabalho dos dois no cinema, uma despedida inglória… Ou, como hoje conseguimos entender com clareza, tratou-se de um apedrejamento com viés mais político do que artístico?
Analisando friamente o resultado, que rapidamente entrou em domínio público, distribuído com péssima qualidade de som e imagem, vejo vários problemas técnicos, mas, sem sombra de dúvida, trata-se de um filme muito superior aos 8 títulos que eles estrelaram na década anterior, vale ressaltar, títulos que sempre foram lembrados com carinho pela imprensa, como os constrangedores “Mestres de Baile” e “Os Cozinheiros do Rei”. O que há neste “Utopia” que incomodou tanto na época?
A resposta é simples, o próprio título escancara, o roteiro trabalha em sua alegoria fabulesca a utopia socialista, que, como o desfecho retrata, sempre desemboca em extrema violência, o povo (representado por Laurel na ótima cena em que o grupo de náufragos estabelece suas funções na nova constituição) é mantido na miséria controlada, escravizado existencialmente, enquanto seus líderes (detalhe brilhante, mostrados com armas de fogo, subjugando os desarmados) vivem confortavelmente.
O senso comum até mesmo entre os fãs da dupla é desprezar esta obra, mas eu sugiro que você procure ver, não é difícil de achar, apesar de não poder ser comparada aos clássicos da dupla, “Utopia” está longe de ser um filme ruim, apenas ousou tocar num tema espinhoso, afinal, o sistema não será favorecido se a massa acordar, um povo destemido dificilmente será controlado.
* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.
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