Críticas

“Jesus de Nazaré” (1977), de Franco Zeffirelli

Jesus de Nazaré (Jesus of Nazareth – 1977)

O comovente retrato da vida de Jesus de Nazaré é apresentado desde o seu nascimento, passando pelas suas peregrinações ainda enquanto criança e o seu batismo por João Batista. Relatando inúmeros milagres durante o seu percurso, a minissérie culmina com a crucificação e ressurreição, num dos mais fiéis e impressionantes relatos da vida de Cristo.

O mundo reiniciado por psicopatas está rapidamente aniquilando a fé cristã, uma trava moral importante no caminho para o totalitarismo orwelliano. E, neste ritmo, o obstáculo será logo eliminado, possivelmente até criminalizado.

Eu nasci em 1983, a minha geração foi a última que ainda viveu na infância a plenitude da emoção das festas católicas, a programação especial na TV durante a Semana Santa, a oração familiar na noite de Natal, nas palavras do personagem vivido pelo saudoso Rutger Hauer em “Blade Runner”, momentos que se perderão no tempo, como lágrimas na chuva.

As pobres crianças de hoje já abrem os olhinhos inseridas em uma realidade grotesca, adestradas ao medo ilógico, farsesco, confusas em todos os sentidos, sem fé, movidas pelo imediatismo raso e estimuladas pelo sistema ao total desprezo pelo passado. Os adultos infantilizados, apavorados com trovões e espirros, não tiveram força para proteger os próprios filhos do processo mais monstruoso de engenharia social, talvez o mais eficiente teste de QI já realizado em escala global. A triste ironia é saber que estes, que negaram o raciocínio, leia-se, a centelha divina, já carregam a penitência em seus corpos.

Você não pode mudar o mundo, mas o importante é que você pode proteger seus entes queridos dos planos dos titereiros do caos. Faça tudo ao contrário do que o sistema e seus tentáculos financiados estão pregando, como, por exemplo, firme os pés nas tradições, preserve, estude, desinverta os valores. Até os ateus e agnósticos mais aguerridos, conscientes da normalização da loucura e dos efeitos danosos em longo prazo na sociedade, estão compreendendo tardiamente a necessidade daquilo que apedrejavam.

Um ritual que merece ser resgatado neste ano é a sessão em família de “Jesus de Nazaré“, a linda minissérie em quatro partes, produzida originalmente para a emissora italiana RAI, dirigida com o refinamento usual pelo saudoso Franco Zeffirelli, com trilha sonora do inesquecível mestre francês Maurice Jarre e a fotografia elegante de Armando Nannuzzi e David Watkin, contando no roteiro com a presença ilustre do grande Anthony Burgess. Aproveito o ensejo para indicar também o livro “O Homem de Nazaré”, que você encontra com facilidade em sebos, em que o autor britânico expande as ideias que trabalhou na obra televisiva.

Eu sinceramente não recomendo a versão radicalmente editada para exibição nas telas de cinema, não prejudique a experiência sensorial pensada pelo cineasta.

O projeto contou com um elenco primoroso, Olivia Hussey (Maria), Peter Ustinov (Herodes), Rod Steiger (Pilatos), Christopher Plummer (Herodes Antipas), Laurence Olivier (Nicodemos), Anne Bancroft (Maria Madalena), Ernest Borgnine (Cornelius), James Mason (José de Arimateia), Donald Pleasence (Melchior), Michael York (João Batista), Anthony Quinn (Caifás), além de nomes como Ralph Richardson, Claudia Cardinale, James Earl Jones, Fernando Rey, Cyril Cusack, Ian Holm, e, claro, no papel principal, o britânico Robert Powell, para muitos, a versão cinematográfica definitiva de Jesus.

Zeffirelli, um católico fervoroso, encontrou nele a imagem mais próxima do rosto que foi retratado nas pinturas, como a clássica “Cabeça de Cristo”, de Warner Sallman, que se basearam por muitos séculos no Sudário de Turim. O diretor sugeriu que o ator não piscasse nas cenas, efeito que homenageava o trabalho de H.B. Warner no silencioso “Rei dos Reis” (1927), evidenciando o olhar penetrante, que parece atravessar a câmera e buscar o coração do espectador.

O primeiro episódio é centrado na história da Natividade do Evangelho de Lucas. O episódio dois foca na pregação e execução de João Batista e o início do ministério público de Jesus. O episódio três aborda as tensões entre Ele e o Sinédrio. O último episódio, inspirado principalmente no Evangelho de João, aborda a entrada do Filho do Homem em Jerusalém, a traição de Judas (Ian McShane), a crucificação e Sua ressurreição.

“Jesus de Nazaré” é uma obra que, não somente merece, PRECISA urgentemente ser resgatada.

  • Você encontra a minissérie com facilidade no Youtube.

A magnífica trilha sonora completa, composta por Maurice Jarre:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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